28 de novembro de 2019

C de CO2 e Cerebria



Terceira letra. C.
Dois jogos. Cerebria e CO2.
Um objetivo. Levá-los “à mesa” durante dezembro.

C.
Clima.
Cores.
Cérebro.
Criatividade.
Competição.
Colaboração.
Complexidade.

Com V de visto em todas as caixas.

Imersões profundamente temáticas. CO2, no mundo exterior, que vamos fazendo. Alterações climáticas, emissões e a energia que utilizamos diariamente. A remeter para outras das minhas vidas, no meu passado de Engenharia do Ambiente e de trabalho sobre poluição atmosférica, de volta de modelos de qualidade do ar, participando em projetos ligados às principais centrais de produção de energia, Sines, Pego, Tapada do Outeiro, e a projetos de incineração de resíduos. Cerebria, no mundo interior, de que somos feitos. Sensações e emoções, melodia e harmonia, tensão e distensão, luz e penumbra, sobreposição, controlo, confronto, supremacia, resultado, personalidade. Moldando ou sendo moldado. Uma experiência de todos os dias.

Objetos que apetece apreciar. A conceção dos tabuleiros, das peças e das cartas. As formas e as paletes de cor. Os símbolos e os códigos. A funcionalidade, o modo como tudo se liga e faz sentido, de forma elegante, à medida que vamos aprendendo.

Manuais de elevada qualidade, que apetece ler. Pelo menos para mim, que sou fã das instruções escritas. Tipo de letra, caixas, cores, ilustrações, exemplos. Está tudo lá, em primeira impressão.

Modalidades para gostos vários, alargando o leque de possíveis jogadores. Modo cooperativo ou competitivo. Com ou sem cenários. Com possibilidade de jogar a solo, o que é imprescindível para mim em jogos desta natureza, para os quais nem sempre é fácil encontrar parceiros ou acertar agendas.

E, por último, mas não em último, elevada complexidade. São daqueles que requerem vontade, algum esforço e tempo. Para aprender, para dar a conhecer de uma forma cativante e para jogar.

Espero em breve ter mais para contar!

26 de novembro de 2019

Noite GBA



De volta à estrada, de volta à bicicleta, para uma prova de Flamme Rouge. Com a Avenue Corso Paseo no menu, uma etapa completamente plana, e oito ciclistas à partida, representando quatro equipas, uma das quais estreante no circuito internacional.

O início foi lento, com o pelotão a rodar compacto, encabeçado de início pela equipa azul. Ninguém parecia querer tomar a iniciativa. E assim se passou praticamente todo o primeiro terço de prova. Até que se deu o ataque da equipa vermelha, isolando na frente os seus dois ciclistas, e obrigando à perseguição dos restantes. O pelotão voltou a agrupar-se, já à entrada das últimas curvas, embora com alguns ciclistas a mostrarem o desgaste da etapa. O sprint final foi equilibrado, com uma vitória apertada do sprinter vermelho!

Asger Harding Granerud. Flamme Rouge. Lautapelit.fi, 2017. MEBO Games. Lda.


Flamme Rouge exibiu, uma vez mais, o seu notável equilíbrio, em que o suspense se mantém quase sempre até final, e em que raramente alguém fica fora de competição. Um jogo que se prepara e aprende em menos de 10 minutos, e que demora cerca de 45 minutos.

É possível fazer outros percursos, introduzir subidas e descidas, adicionar os efeitos do vento e da chuva com a expansão Meteo, aumentar o número de ciclistas com a expansão Peloton, ou mesmo, porque não, modificar algumas regras.


Uwe Rosenberg e Corné van Moorsel, Nova Luna, Pegasus Spiele, 2019.


Da estrada passamos à Lua, Nova. Apanhando peças. Limitado pela posição da Lua, que se move, e das escolhas dos outros jogadores. Fazendo a Lua mover-se. Avançando um pequeno passo, para jogar mais vezes, ou dadno um salto gigante, para recolher “a” peça.

Colocando peças. Fazendo com que os alinhamentos de gemas centrais correspondam, em termos de número e de cor, às combinações que figuram em cada peça, de forma a cumprir os objetivos.

Um belo quebra-cabeças, nada evidente, requerendo uma constante adaptação e muita atenção. De início é fácil ficar com os olhos trocados!


Oleksandr Nevskiy, Clube Detetive, IGAMES, 2018. MEBO Games Lda.


Regressando à Terra e ao contacto com outros seres humanos. Contando histórias, ligando palavras e imagens, fazendo bluff, tentando ler os outros e descobrir quem estava de fora do segredo inicial. Clube Detetive.

Com cartas a fazer lembra o Dixit, mas com processos distintos, é um daqueles jogos adequados para mais jogadores, em ambiente de muita descontração, dando largas à imaginação e exigindo rapidez de associação.


E foi assim, em mais um serão organizado pelo Grupo de Boardgamers de Aveiro, tendo por companhia o Carlos Abrunhosa, o Nuno Rebelo e o Pedro Chuva.

Até à próxima!

24 de novembro de 2019

Em busca do conhecimento - Ep. 7: Lições



As lições sucediam-se. Voltava a sentir-me como os meus próprios estudantes, saltando de aula em aula, de mestre em mestre, entre a teoria mais longínqua e a prática mais próxima.

Umas eram sobre novas matérias, outros tantos olhares diferentes sobre o mesmo mundo, começando quase pelo princípio, pelos princípios, pelos termos e conceitos, pelo que há de mais básico. Tateando, testando, experimentando, alargando a base. Nem sempre compreendendo de imediato o quê e o porquê. Por vezes buscando, demasiado cedo, uma utilidade para o saber.

Em muitas outras sentia já que me embrenhava, cada vez mais profundamente, num caminho estreito, focando, entrando no domínio dos especialistas. Ascendendo de nível. Entendendo a complexidade que faz as coisas serem, afinal, mais simples. Participando em sessões que ainda há poucos anos, ou mesmo só alguns meses, seriam totalmente incompreensíveis, como se faladas em língua alheia.

Mas, ainda mais do que estender as linhas horizontais ou progredir na escala vertical, interessava-me cada vez mais pelos caminhos oblíquos, aqueles que permitem cruzar vários domínios e vários níveis, misturando saberes. Olhar para o natural de uma forma abstrata, e para o abstrato com os olhos da natureza, juntar uma pitada de arte, aqui e ali, questionar, saltar barreiras, contornar ou confrontar os que aparentam ser donos senhoriais de alguns destes domínios

Porém, foi só na era newtoniana que esta nova coabitação [entre a Física e a Matemática] conduziu a um casamento genuíno. Os “Principia” de Newton, escusado será afirmá-lo, eram uma obra matemática par excellence (...). No mínimo dos mínimos um estudante de Física precisava de estar bem preparado em Geometria de secções cónicas e, de preferência, também em cálculo. Como resultado disso, a partir do momento em que a Cosmologia de Newton começou a ser tomada a sério nas universidades da Europa continental, o curso de Física teve de ser prefaciado pelo ensino pormenorizado da Matemática. (*)

Tanto por saber, tanto para aprender, tanto para ensinar, tanto para descobrir. E tanto tempo que é necessário! Uma tensão permanente entre aprender algo diferente, algo novo, ou aprofundar um caminho já iniciado. Entre o todo e apenas uma parte. Entre ouvir muitos mestres ou discutir, quase de igual para igual, com apenas um ou dois.

Apercebo-me que estes dilemas não são só meus, mas também dos próprios mestres. Debatem-se com o que ensinar, como ensinar, em que sequência. O que é mais relevante e o que pode ser acessório. Tendo eles opiniões diversas sobre o fundamento e o método, sobre o papel de cada disciplina, sobre o uso do tempo.

Não sei se estas questões terão resposta durante o próximo século, o dezanove, que já se avizinha …

(continua)


Uma viagem à boleia de Newton, um jogo de Nestore Mangone e Simone Luciani, Ediciones Mas que Oca (2018) sob licença de Cranio Creations.

(*) História da Universidade na Europa, Vol. II – As Universidades na Europa Moderna (1500-1800), Coordenação de Hilde de Ridder-Symoens, Imprensa Nacional Casa da Moeda (2002).

16 de novembro de 2019

Em busca do conhecimento - Ep. 6: Parte da árvore que cresce



Esta semana recebi correspondência de dois dos meus estudantes, dos tempos de Paris e de Cambridge!

É à distância que vou acompanhando os seus estudos, os seus progressos, as suas explorações e, em breve, estou certo, as suas próprias descobertas. À distância e com o atraso que se deve, por vezes, à escrita das cartas e, mais frequentemente, ao tempo que estas demoram a chegar ao seu destino. A minha própria demanda, e a frequência com que troco de cidades ou mesmo de reinos, torna o acompanhamento ainda mais difícil.

Talvez um dia venha a ser possível conversar à distância, como estando na mesma sala …

Agrada-me pensar que ainda consigo guiá-los no caminho do conhecimento, agora mais através de pistas e de questões que coloco, do que transmitindo o meu saber. Como o meu mestre fez comigo.

O que Descartes fez foi um bom passo. Vós adicionastes muito de várias maneiras, e especialmente ao considerar as cores de placas finas. Se eu vi mais longe, foi por estar sobre os ombros de gigantes. Mas eu não questiono que tenhais feito várias experiências significativas, para além das que haveis publicado, e algumas, é bem provável, idênticas aquelas que cosntam das minhas publicações mais recentes (tradução livre a partir de *)

Colocando de parte o que pode ser uma fina ironia, própria da acrimónia que sei ter existido entre Newton e Hooke, e da preferência que tinham pela discussão privada sobre o debate público, prefiro substituir a imagem dos gigantes que nos antecederam, no caminho do conhecimento, por algo mais orgânico, pela imagem de uma árvore que cresce.

Uma árvore que vai crescendo, com novos ramos procurando a luz, folhas e até flores, sementes que voam com o vento, que alcançam novas alturas nas asas de um pássaro, e que na terra propícia originam novas árvores. Também ramos que morrem, folhas que amarelecem e caem, tornando-se parte da terra que sustenta.

(continua)


Uma viagem à boleia de Newton, um jogo de Nestore Mangone e Simone Luciani, Ediciones Mas que Oca (2018) sob licença de Cranio Creations.

(*) Koyré, Alexandre. “An Unpublished Letter of Robert Hooke to Isaac Newton.” Isis, vol. 43, no. 4, 1952, pp. 312–337. JSTOR, www.jstor.org/stable/227384.

14 de novembro de 2019

Encontros



No ano passado foi a primeira visita, só de passagem, para ver o ambiente e espreitar uns quantos jogos, sem tempo para ficar, sem tempo para jogar.

Agora, um ano de caminhada depois, foi muito diferente! Naturalmente vendo jogos, novos ou antigos, desconhecidos por completo ou conhecidos da mesa, apenas de nome ou das notícias.

Mas, também, e cada vez mais, os encontros. Alguns pela primeira vez; outros são reencontros, de quem partilha os mesmos lugares; outros ainda passando do virtual real das redes, dos fóruns, dos blogs, dos canais, das mensagens, para o real real. Tempo para conversa e para histórias, sobre os jogos, as criações, a divulgação, a indústria. Sobre o passado, o presente e os futuros

Foi ainda a oportunidade para realizar testes de um protótipo, para a Weird Giraffe Games, com diferentes tipos e número de jogadores, bem como para experimentar um protótipo, já em estado avançado, o segundo jogo da CardsLab, pela mão de Pedro Gordalina.

E, desta vez, também, para jogar! Primeiro Tiny Towns, um jogo editado este ano, numa partida a 5. De seguida, e com a passarada do Wingspan indisponível, jogou-se Tzolk’in - o Calendário Maia e as suas rodas dentadas originais. Obrigado Vasco Chita, pelo eficiente tutorial!

Ficou por jogar o Newton, um pedido do João Neves, porque a sala estava lotada, não havendo qualquer espaço disponível … Resultado de uma casa cheia num sábado à tarde. E ficou por experimentar uma das mais recentes produções nacionais, Porto, de Orlando Sá com a MeboGames.

Onze horas na Invicta Con 2019, uma organização do Grupo de Boardgamers do Porto, no Multiusos de Gondomar.


Teste do protótipo de Gift of Tulips, da autoria Sara Perry, para Weird Giraffe Games


Protótipo de Zookeepers, Pedro Gordalina, CardsLab


Tiny Towns, Peter McPherson, Alderac Entertainment Group, 2019


Tzolk'in: O Calendário Maya, Simone Luciani e Daniele Tascini, Czech Games Edition, 2012




Na rota das convenções segue-se a Augusta Con, em Braga, de 13 a 15 de dezembro.

5 de novembro de 2019

"Nem todos os que vagueiam estão perdidos"

Cerebria, MindClash Games, 2018

Há um ano terminava a contagem decrescente.
Há um ano começava este blog.
Iniciava a viagem.
Vagueando pela terra dos jogos.
Sem me preocupar aonde ela me levaria.
Sem saber o que poderia descobrir.
Sem saber quem encontraria.

Um ano de viagem.
Um ano de emoções.
Como na imagem e nas palavras.
Em intensidades, doses e efeitos variáveis.
Ao sabor dos dias ou até das horas.

Comfort. Insecurity. Euphoria. 
Loneliness. Trust. Bleakness. Sociability. 
Lethargy. Safety. Pessimism. Freedom. Doubt. Passion.




O caminho começou na zona de conforto, a solo, criando um novo blog. Com elementos distintos das Notas, que contam já com mais de dez anos. Adicionando à escrita, os jogos e as fotos. Três coisas minhas. Como quarto elemento, as línguas. Evitando a escolha, mais simples, entre o inglês e a língua mãe. Duplicando o trabalho, criando versões gémeas, em inglês e em português. Para partilhar com mais pessoas. A manter! E a que se somaram contactos, cada vez mais frequente, em espanhol e, esporadicamente, em francês. Comunicando com mais viajantes.

Uma parte extensa da caminhada é feita no virtual, que é também real. Nas redes que alteram o espaço-tempo. Que anulam umas fronteiras, ainda que criem outras. Que multiplicam as possibilidades, até ao risco de sobrecarga. Que implicam opções, quanto ao quem, como, quando, com que proximidade. No Facebook, agora alargado aos grupos temáticos; no Twitter, em conta criada para o efeito; no Kickstarter, por onde passam primeiros projetos e empresas estabelecidas; e, à medida dos encontros, no Reddit, Discord, Tabletopia.


InvictaCon 2018


Os jogadores juntam-se à volta das mesas. Toca-se em peças, cartas, dados, tabuleiros. Em casa, com amigos, como no mundo em que cresci e em que o acesso a novos jogos era limitado. Agora a terra dos jogos é muito maior, com muito mais habitantes, com muitas mais espécies, muito mais acelerada, estendendo-se por cafés, clubes e convenções.

Ainda cedo, neste percurso, surgiu a passagem fugaz pela InvictaCon. Aperitivo para outros encontros, já em 2019, na LeiriaCon, em ambiente muito internacional, e na RiaCon. E, mais para o Verão, os encontros regulares organizados pelo Grupo de Boardgamers de Aveiro. Gondomar, Leiria, Estarreja e Aveiro, entre outros. Geografia com jogos, para repetir e alargar!

Continuando a vaguear fui ter a outras paragens.


Moon, Pablo Garaizar, 2019


Vendo jogos em vários idiomas, pensei que poderia contribuir para aumentar a presença do Português, tornando os jogos acessíveis a mais pessoas, para quem a língua pode ser uma barreira ou, pelo menos, diminuir a apetência. Isto, mesmo considerando a pequena dimensão do mercado em Português de Portugal.

Começou então uma outra fase, atrevendo-me a iniciar contactos. Que tal uma versão das regras em Português? Alguns silêncios, muitas negativas, alguns "talvez ..." e "se", mas também várias respostas afirmativas! No início foram as baleias, dando alguma confiança. Seguiram-se vários projetos. Alguns tornaram-se já, neste curto intervalo de tempo, contactos regulares. Por coincidência, chegou-me hoje mesmo o resultado de um destes projetos. Tinha chegado à Lua!

De forma natural brotou uma nova ramificação, baseada na experiência de ROT, Revisor Oficial de Textos como designávamos entre nós, num grupo restrito: a revisão ou edição de regras.

Depois, o envolvimento na própria criação dos jogos, com comentários aos conceitos e mecanismos, em fase de desenvolvimento, e o teste de protótipos, em fases mais avançadas.

E também o papel de júri, num concurso para novos projetos.

Ao todo, mais de quarenta colaborações, o que representa muito mais pessoas.

Se continuar a vaguear tempo suficiente talvez possa alcançar outros dois níveis, que sei que estão por aí, na terra dos jogos: a elaboração de raiz de um livro de regras e a conceção própria de uns quantos jogos, cujas ideias estão em maturação.

Muito passou desde aquelas tardadas de finais dos anos 70-80, e dos meses de férias, recriando competições desportivas ou conflitos militares. Mas algo permaneceu inalterado!




Em paralelo, a coleção de jogos foi também aumentando, entre novas aquisições, resultado de algumas das colaborações, ofertas ou até mesmo de um instante de sorte numas rifas! São umas duas dezenas de novos mundos, alguns dos quais ainda por experimentar. Até porque, como resulta da intensidade que a viagem foi adquirindo, o tempo para parar e para jogar nem sempre abunda.

Foram muitos os encontros ao longo deste ano, entre Autores, Ilustradores, Escritores, Criadores de conteúdos, Editores, Gestores e, claro, Jogadores, espalhados pelo mundo! Não os vou enumerar agora, mas certamente irão aparecendo por aqui, neste blog, A Preto e Branco.

"Nem todos os que vagueiam estão perdidos", O Senhor dos Anéis, J.R.R. Tolkien.