2 de agosto de 2020

Bem-vindos à Rede!



Entrem na Rede! Bem, isto não é Tron, nem Matrix, apesar de existir alguma relação com um tipo de mundo por-dentro-da-máquina. Isto é sobre um evento, no nosso mundo, no qual já estamos intensamente ligados através de máquinas, alargando o nosso alcance, ultrapassando barreiras, redesenhando fronteiras.

“Bem-vindos à Rede!”. Estas podiam ser as palavras dirigidas por Paul Grogan aos participantes da Virtual Gridcon, a convenção de jogos de tabuleiro que organiza, e que se realizou de 26 a 28 de junho. Este ano a edição decorreu online, de Devon para o mundo, devido a este vírus que nos assombra a todos.


Mas antes do meu relato da convenção, deixem-me só mencionar um evento paralelo com grande significado. Paul organizou um sorteio de rifas, cujo montante reverteria para a Chrysalis Youth Empowerment Network, uma instituição de solidariedade sediada no Reino-Unido a operar no Uganda, e que visa contribuir para o desenvolvimento de jovens empreendedores sociais de zonas rurais e de bairros desfavorecidos, e que agora enfrentam um desafio ainda maior (conhece mais sobre o Butterfly Project em https://cyen.org.uk/). Com mais de uma centena de jogos doados por criadores e por editoras, recolheu o apoio de mais de 500 pessoas, angariando 10 000 libras no processo! E, como elemento adicional, ligando em direto Devon e o Uganda, foi realizada e transmitida uma partida de aprendizagem do jogo Under the Falling Skies, com a participação de dois jovens envolvidos no Chrysalis Project. Dêem uma espreitadela!


De volta à minha Gridcon.

Para ser sincero, não sabia bem o que esperar. É que não sou um grande adepto de jogar jogos de tabuleiro online, seja utilizando umas das muitas plataformas agora disponíveis, como TableTopSimulator, Tabletopia or BoardGameArena, ou com base apenas numa ligação através do Skype ou do Facebook. É verdade que as aplicações de voz, câmaras e salas de conversação, permitem uma grande aproximação entre as pessoas, mas não é bem a mesma coisa. Abarcar com a vista um tabuleiro inteiro sobre a mesa, com as cartas e as peças, é substituído por um pequeno ecrã (pois, é possível que precise de um maior!); o toque e as ações são substituídos por apontadores conduzidos pelo rato e por uns quantos controlos; e não está ninguém sentado ao teu lado! Por outro lado, é verdade que é a única forma de jogar com pessoas de todo o mundo. E, claro, não estaria eu a escrever estas linhas se se tratasse apenas de mais uma convenção normal, no mundo dito físico!

Para esta primeira convenção online, escolhi principalmente juntos que ainda não o são completamente, e que se encontravam em diferentes fases de desenvolvimento.


Numbers Station, foto de Robert (Twitter)


Comecei no final da tarde de sexta-feira, juntando-me a Robert, o criador de Numbers Station, para uma sessão de aprendizagem e um jogo a dois. Com inspiração nos serviços de informação e de espionagem, o nome do jogo provém das estações de rádio de onda curta que emitem números, de significado apenas compreensível para os ouvidos conhecedores que se encontrem do outro lado. Em Numbers Station somos operacionais dos serviços de informação. Gerir recursos, interferir em eleições, bloquear sinais, colocar espiões. Soa familiar? Curioso em ver os desenvolvimentos seguintes deste jogo!


Void Zone, foto de Robert Elliott (BoardGameGeek)


Sábado era o dia principal: quatro jogos e meio no menu, para encaixar das 10 da manhã até cerca das 8 da noite!

Primeiro um jogo a três de Void Zone, um jogo abstrato de combate territorial e eliminação de jogadores, concebido por um outro Robert, Elliott. Gosto mesmo de jogos abstratos de estratégia; existe sempre um sentimento de grande familiaridade! Neste, a área disponível está constantemente a encolher, o que, em combinação com a necessidade de uma gestão cuidada da energia e a seleção dos movimentos, pede ações rápidas e decisivas. Void Zone não desapontou. 


Coal Baron, foto de Dong Hyuk Song (BoardGameGeek)


Depois do espaço exterior, o regresso à Terra, às profundas minhas de carvão da Alemanha, tal é o cenário de Coal Baron. Este jogo de 2013, da autoria de Michael Kiesling e de Wolfgang Kramer, foi o único jogo já comercializado que joguei. Gere bem os mineiros, pondera quão fundo queres mergulhar de cada vez através do poço do elevador, avalia as encomendas dos diferentes recursos e os transportes disponíveis para os fazer chegar aos clientes. Paul e David mostraram ser bem mais eficientes, em luta renhida até ao fim, enquanto eu tinha optado por combinações menos valiosas. Uma nova e divertida aprendizagem.


Swatch, foto de Scott James (BoardGameGeek)


Depois de uma curta pausa para almoço era altura de trocar as galerias escuras da mina por esquemas de cores vibrantes: passemos a Swatch, de Scott James e Minerva Tabletop Games. Éramos três à mesa, recolhendo cores primárias, misturando-as e competindo para ser o primeiro a completar os padrões de cores. Rápido de aprender, rápido de jogar, com subtilezas suficientes, e com um aspeto simples e atraente. Parece pronto a chegar ao mercado!


Intrepid, foto de Timofey Bokarev (BoardGameGeek)


E novamente de volta ao espaço. Bem, quase … não cheguei a tempo à plataforma de lançamento, uma vez que estava ainda a misturar cores… E, assim, fiquei para trás, observando os que se juntaram na Estação Espacial Internacional, dando o seu melhor para sobreviverem. Intrepid, de Jeff Beck e Uproarious Games é um jogo em que assumes o papel de um astronauta a bordo da EEI, cooperando com astronautas de outras nacionalidades, cada um com as capacidades próprias, tentando manter operacionais os sistemas de suporte de vida, gerar recursos suficientes, e evitar a destruição da EEI face uma séria de desastre iminentes. Este já é um jogo mais complexo, com grane potencial, e sobre um dos meus temas favoritos: a exploração espacial. Desejoso de o experimentar! Tendo angariado mais de 270000$ no Kickstarter, Intrepid tem edição prevista para o início de 2021.


Eternal Palace, foto de Alley Cat Games (BoardGameGeek)


O dia terminou com Eternal Palace, uma viagem ao Extremo Oriente, neste jogo de Steven Aramini para a editora Alley Cat Games, com a demonstração a cargo de David Digby. Usa a pintura no ter caminho para chegar ao Emperador, visitando diferentes locais em redor do Palácio, obtendo e usando peixe, bem como diversos materiais, reconstruindo monumentos, vendo concedidos favores. E muitos modos de pontuar. No conjunto, um agradável para de horas, culminando numa apertada luta até à derradeira ronda.


Para terminar a lista de jogos, Domingo foi altura de me encontrar outra vez com o duplo D, para uma demonstração do seu Projeto S. Duplo D para David Digby, acolhedor parceiro durante uma boa parte do fim de semana. S como letra de código do projeto em desenvolvimento, ou duplo S, como em Super Secreto. Sem revelações. Digo apenas que é mais um que espero ansiosamente poder reencontrar, lá mais para a frente.


Houve ainda tempo para assistir a umas perguntas e respostas, ao vivo e a cores, com o criador Dávid Turczi, com uma visão pormenorizada do seu trabalho, do mercado dos jogos, do quão difícil é tornar a criação de jogos um modo de vida, outros projetos porventura menos conhecidos do que os títulos sonantes da Mind Clash Games ou dos seus modos em solitário, e também como pronunciar corretamente o seu nome (julgo que consigo!). Ainda lamento ter passado, há alguns meses, uma oportunidade de lhe comprar, diretamente, e na sequência de uma troca no Facebook, um exemplar do Days of Ire, sobre os protestos de 1956, em Budapeste; mas pronto, tinha que manter as minhas prioridades.


E, por fim, lá encomendei Anachrony, de Dávid Turczi, Richard Amann e Viktor Peter, publicado pela Mindclash Games. Mais sobre falhas temporais, paradoxos e anomalias, em breve, neste blog!




E assim passei um agradável fim de semana, graças à dedicação e muito trabalho de Paul Grogan, e de alguns colaboradores próximos, e, naturalmente, aos companheiros de aventuras e aos criadores de todos estes mundos.

Obrigado, Paul!