27 de fevereiro de 2021

Days of Ire: Ep.7 - Budapeste 1956 e mais além

 

“A 30 de Outubro, o cardeal Mindszenty foi libertado (…). O governo de Nagy anunciou a realização de eleições livres. O coronel pôs as suas tropas à disposição do governo.”
Martin Gilbert, “História do Século XX” 


Days of Ire: Budapest 1956 termina neste dia 30 de outubro. No entanto, este não foi o final da história da revolução húngara. Um enorme contingente de tropas soviéticas cruzou a fronteira húngara a 1 de novembro, deslocando-se em direção a Budapeste. Imre Nagy nomeou um novo governo e retirou a Hungria do Pacto de Varsóvia. O coronel Pál Méter foi promovido a general e tornou-se Ministro da Defesa. Ergueram-se barricadas por toda a cidade e as pessoas preparavam-se para lutar. E o combate aconteceu. Sem sucesso. As forças soviéticas rapidamente controlaram Budapeste. Méter e Nagy foram presos e mais tarde, em 1958, executado.

Durante a revolução foram mortos mais de 2500 húngaros e 700 soldados soviéticos, e 200 000 húngaros tornaram-se refugiados (fonte: Wikipedia). János Kádár, o novo chefe de estado, permaneceria no cargo durante mais de 30 anos, quase até à queda do Muro de Berlim e ao colapso da União Soviética.


Pesquisando nos meus livros, encontrei informação sobre o posicionamento do Leste e do Oeste.




Os líderes ocidentais não pareciam estar preparados para um movimento popular interno desta dimensão. Como Henry Kissinger reflete, no seu livro Diplomacia, que contém um capítulo inteiro sobre estes acontecimentos, “Hungria – Sublevação no Império”, uma explosão destas não tinha sido antecipada, apesar de toda a retórica americana sobre “libertação”. Washington permaneceu em silêncio mesmo quando trabalhadores e estudantes lutavam nas ruas contra tanques soviéticos. O apelo ao Conselho de Segurança da ONU não surtiu efeito, uma vez que, à data da votação de uma resolução, os tanques soviéticos dominavam Budapeste. E a Realpolitik impõe-se: insistir nos princípios, corretos, poderia ter empurrado os dois blocos para uma guerra, e mesmo para uma guerra nuclear.




Para perceber melhor o estado de espírito soviético, e o impacto destes acontecimentos ao longo das décadas seguintes, vale a pena ler a biografia de Gorbachev escrita por William Taubman. 

Por altura da revolução, Yuri Andropov, que mais tarde fomentou a ascensão de Gorbachev, era o embaixador soviético em Budapeste.

Andropov, que apelou à intervenção enviando fotografias de corpos dependurados de comunistas húngaros, desenvolveu o que alguns designam por “complexo húngaro”, o receio de que revoluções das bases conduzissem a governos populares. Ele sabia que, ao contrário da versão oficial, a revolta não fora instigada do estrangeiro, mas sim um levantamento genuíno da população, e do proletariado, contra o regime. E por esta razão foi apologista da tese das reformadas controladas, de cima para baixo, de forma a evitar potenciais rebeliões.

Quase trinta anos mais tarde, em meados da década de 1980, Gorbachev afirmou perante o Politburo: "Os métodos usados na Checoslováquia e na Hungria já não são bons; não irão funcionar!”, declarando pela primeira vez que a força militar não seria usada para manter o controlo sobre a Europa de Leste. 

Mais, ele não considerava a maioria dos líderes dos países da Europa de Leste como seus iguais e capazes para a diplomacia moderna, com exceção de Jaruzelski, na Polónia, e de Kádár, já doente, na Hungria. Mas a mensagem não passava de forma clara no exterior, e os líderes continuavam a acreditar numa intervenção soviética, caso necessário, para se manterem no poder. 

Do outro lado da cortina, o Ocidente mantinha-se cético quanto às intenções reais de Gorbachev.



                            Wikipedia                                              
                            Fonte: Hungarian State Security Archieves                                 


Pouco sabia sobre a Revolução Húngara, e sobre o seu impacto, quando comecei este projeto. Não muito mais do que uma ideia vaga de combates de rua, com pessoas comuns de um lado e blindados do outro. De facto, enquanto crescia, a história da Europa de Leste posterior à Segunda Guerra Mundial não constava das matérias das aulas de história, e seriam mais comuns referências, noutros meios, a Dubcék e à Primavera de Praga de 1968.

Adicionalmente, e durante um determinado período, encontrava-me mais atraído pelas batalhas abertas da Segunda Guerra Mundial, na Europa, no Norte de África e no Pacífico, mesmo enquanto acompanhava a política da Guerra Fria em finais da década de 1970 e início da década de 1980, pontuada, entre outros, pelos boicotes às Olimpíadas de Moscovo (1980) e Los Angeles (1984).

Tenho memórias mais vivas do final da década de 1980, com a ascensão de Mikhail Gorbachev, a queda do Muro de Berlim, a subsequente reunificação da Alemanha e o colapso da União Soviética.


Isto foi muito mais do que uma experiência de jogo, pois tornou-se uma experiência de aprendizagem, não apenas dos acontecimentos da Revolução Húngara, mas também das linhas e dos nós que mantêm a teia da História intacta, ligando passado, presente e futuro.


A cena internacional é hoje muito diferente da daqueles outros tempos em que a Guerra era Fria, a Cortina era feita de Ferro, e Berlim estava dividida por um Muro, reduzindo agora as possibilidades de ocorrerem intervenções externas diretas.

No entanto, não tem havido escassez de conflitos internos, em anos recentes, com as pessoas mobilizadas nas ruas, blindados a ocuparem o centro das cidades e militares a intervir, como no Irão (2009), Egito (2011), Ucrânia (2013), Bielorrússia (2020), ou Birmânia (2021), para mencionar alguns.

E a Polónia e Hungria, agora membros da Uniões Europeia, estão novamente em consonância, mais por razões indesejáveis: estão sujeitas a escrutínio apertado e foram desencadeados contra elas, em 2017 e 2018, respetivamente, procedimentos ao abrigo do Artigo 7 do Tratado da União, significando que se considera existir um sério risco de incumprimento dos valores fundamentais sobre os quais a UE se baseia.


A História está continuamente em construção!


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