Em busca do conhecimento - Ep. 2: Pronto para partir

Tinha tomado a decisão. Partiria em breve. Mas para onde?

Para Norte, até Lípsia, cidade natal de Wagner e universidade de forte tradição luterana? Demasiado perto! Para mais longe, rumando a leste, em direção a terras de invernos gélidos, até à afamada Universidade de Cracóvia, onde Copérnico estudou? Demasiado frio! Para Bolonha, que depois de Pádua foi a segunda Universidade a conceder o grau de doutor a uma mulher? Talvez mais tarde.

É Paris que chama por mim. A Universidade de Paris. A Sorbonne. As Luzes. Os ecos que chegam da conclusão da grande obra de Diderot e d’Alembert, a Encyclopédie, ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers, com mais de duas dezenas de volumes, milhares de artigos, todo o conhecimento mais atual. Paris será!


Desconhecia eu que a Real Academia Espanhola havia decidido enviar, o bibliotecário don Hermógenes Molina e o almirante don Pedro Zárate, dois homens bons, a Paris, com a delicada missão de levar para Espanha um exemplar da provocadora Enciclopédia, ao arrepio dos ditames da Igreja. Mas isso é outra história.


Depois talvez Cambridge, do lado de lá da Mancha, quem sabe. Ou Salamanca, através dos Pirinéus ou das águas da Biscaia; e daí até aos mistérios de Granada e ao Mare Nostrum.

Agora era altura dos preparativos finais. Pendurei os alforges na cadeira e coloquei, sobre a cama desfeita, alguns dos meus pertences. Tinha de viajar leve. Umas quantas peças de roupa, provisões para o início de viagem, os livros que seriam os meus companheiros de viagem, as moedas numa bolsa, as cartas de recomendação, dos meus mestres passados para os meus futuros mestres. Tudo pronto.

Fiz-me à estrada.

(continua)

Uma viagem à boleia de Newton, um jogo de Nestore Mangone e Simone Luciani, Ediciones Mas que Oca (2018) sob licença de Cranio Creations.

Homens Bons (2015), Arturo Pérez-Reverte, Edições ASA.

Uma História da Universidade na Europa, Vol. II – As Universidades na Europa Moderna (1500-1800), Coordenação de Hilde de Ridder-Symoens, Imprensa Nacional Casa da Moeda (2002).