30 de dezembro de 2022

Sobre Reis e Rainhas, tróis, duendes e mais

 


A última sessão tinha terminado, e o dia de trabalho estava concluído. O elevador traz-me de volta ao rés-do-chão. A porta lança-me na agitação da cidade, onde a noite já se instalou. Não chove, o ar é frio, mas não em demasia, bom o suficiente para caminhar. E isso é muito melhor do que mergulhar nos túneis subterrâneos, para logo emergir noutro lugar, como se saltasse entre dois pontos sem ligação. É final de novembro, e são dezoito horas.

Da rotunda Robert Schuman, em direção ao centro da cidade. Um passeio Rue de La Loi abaixo. As ruas estão inundadas de luz, dos candeeiros sobre os passeios, dos carros em movimento lento, lançando linhas de branco e deixando rastos de vermelho, e das scooters elétricas e bicicletas, em movimento rápido. 

Atravesso a Rue Royale para entrar no centro da cidade, em forma de pentágono. Mais à frente, à direita, a Catedral de São Michel e São Gudule. Algumas ruas depois, a Place du Marché aux Herbes. Nomes e vistas familiares, talvez porque já aqui estive antes, por três ou quatro ocasiões, sempre relacionadas com trabalho. A primeira provavelmente na década de 1990, e a última no início de 2018, para uma entrevista de trabalho no Parlamento Europeu. Sim, isto é Bruxelas.

Depois, a Grande Place, com a sua árvore de Natal engalanada, e sinos ressoando muito ao fundo. Centros comerciais, lojas de rua, cafés e restaurantes. Luzes e sons. Pessoas movendo-se apressadas, de sacos na mão. Outras em conversas ruidosas. Ainda outras contemplando apenas, tirando fotografias, congelando o momento, para o agora ou o depois. Compradores, turistas e residentes. Locais e nacionais, ou estrangeiros como eu.  




São agora dezanove horas. Está na hora de me dirigir ao próximo destino, seguindo uma das sugestões, relacionadas com jogos, do Orlando Sá. Um lugar aberto por estas horas, e onde poderei comer algo. 

Uma curta caminhada, de uns cinco minutos, até uma rua com um nome apropriado para esta demanda, a Rue du Fossé aux Loups, ou Wolvengracht. Bem, parece que o nome da rua estará mais ligado a alguém chamado Wolf do que às ditas criaturas, mas ainda assim... O local é fácil de identificar, graças às grandes letras por cima da porta: Kings & Queens. Sim, é aqui, um Café de Jogos de Tabuleiro. Isto lembra-me que ainda devo uma visita ao A Jogar é que a Gente se Entende, em Portugal. Uma promessa para cumprir em 2023!

O lugar está praticamente deserto, não fossem dois pares envolvidos num qualquer jogo com miniaturas, perto da porta, e um casal ao balcão, bebericando cocktails, envolvidos numa conversa com o barman. Escolhi uma das muitas mesas vazias, de ótimo tamanho para jogos, diga-se. Coloco o casaco nas costas de uma das cadeiras e o caderno sobre a mesa. Em fundo, os Linkin Park tocam, depois será a vez dos Queen. Um ambiente acolhedor.

O conceito do Bar é simples. Por cinco euros por pessoa é possível jogar à vontade, tudo o que se quiser, recorrendo à biblioteca de jogos no local. É até possível contar com ajuda para aprender as regras. Jogar não está no meu menu para hoje, mas uma pizza saborosa e uma Cuvée des Trolls, uma cerveja belga com história – que mais poderia ser? – servirão perfeitamente.

Primeiro, a obrigatória vista de olhos à biblioteca de jogos. São mais de trezentos, alinhados nas prateleiras, de jogos ligeiros a euros médios, e a clássicos pesos pesados. Capas familiares em exposição: Takenoko, Wingspan, Anachrony, e muitos, muitos mais.

Regresso à mesa. O movimento continua a ser escasso. Um grupo de três pessoas à procura de algum jogo, sentando-se e preparando-se para jogar. Mais duas, entrando e saindo. Será por causa da época de festas que se avizinha, por ser um final de tarde a meio da semana, ou o efeito secundário de mais uma greve ferroviária?



Decido juntar-me a Thomas, o barman, ao balcão, e ficar a conhecer um pouco mais sobre o local. À medida que a conversa fluía, o meu francês ia voltando à superfície, ainda que algo enferrujado. 

Tendo aberto há pouco mais de quatro anos, viu as restrições associadas à pandemia estarem em vigor durante uma parte substancial da sua existência. Sobreviveu às dificuldades, e a uma renda para pagar no centro da cidade, sem grandes apoios. Temporariamente convertido em take-away, como tantos outros negócios similares, foi atenuando as perdas. Sobreviveu, mas não incólume, com projetos de remodelação adiados e apenas agora, gradualmente, voltando à plena ação.

O negócio parece estar em alta. Entre visitantes regulares e ocasionais, um dia de empresa realizado fora do escritório, ou sessões de fomento do espírito de equipa. Aparentemente, escolhi o que se revela ser o dia mais calmo das últimas três a quatro semanas.

Quanto a Thomas, trabalha aqui há cerca de um ano. Apaixonado pela arte de preparar e servir cocktails, algo que sempre achei fascinante, aprendeu os truques do ofício como barman de hotel. O conhecimento, a experimentação, a criatividade, a ligação entre pessoas, o desafio de proporcionar novas experiências, sugerindo, orientando. 

Das bebidas aos jogos, com tantos pontos em comum. A importância de conhecer o ofício e de compreender as pessoas sentadas ao balcão ou à volta das mesas. Dando a descobrir novos sabores, novos jogos, novas sensações. Criando um ambiente acolhedor, para que voltem uma e outra vez. Contribuindo, acima de tudo, para que as pessoas passem bons momentos em conjunto, à volta de uma bebida ou duas, de uma mesa com jogos de tabuleiro, ou até de ambas. O barman e o especialista em jogos de tabuleiro. O verdadeiro conhecedor de jogos é, aqui, Athanasios, o fundador e proprietário, mas que hoje não se encontra por cá.

A conversa deriva. O significado de ser belga. De viajar pelo mundo e escolher trabalhar em Bruxelas. As raízes das pessoas, espalhadas por todo o continente, Bélgica, Grécia, Luxemburgo, Portugal. E por todo o mundo. Nacionalismo e internacionalismo. Abertura e segregação. Companheirismo e divisões. Harmonia, lutas e perigos à espreita.

Bem, o tempo voa e eu despeço-me do Kings & Queens. Obrigado, Thomas! A caminhada de volta ao hotel, uma noite de sono, e uma viagem madrugadora para o aeroporto. Espero regressar e, da próxima vez, jogar alguns jogos!



https://www.facebook.com/KingsQueensCafe/

5 de novembro de 2022

Muito para lá do horizonte

 


Levantando âncora.  Como este navio, no início de setembro de 2016. Era O Ano do Macaco. Um ano pleno de partidas em direção ao desconhecido, rompendo com rotinas bem estabelecidas. Mudando de rumo, no livro do mesmo nome, da autoria de Patti Smith, como na vida real. 

Levantando âncora. Outubro de 2018. O início de uma contagem decrescente que poderia não ter acontecido sem os eventos precedentes. Tudo pontos interligados. Em direção (de volta) à terra dos jogos. Começando por juntar palavras, fotos, jogos e idiomas. Coisas de que gosto. Dando forma a um blogue. Com uma vaga noção de querer estar mais envolvido no mundo dos jogos de tabuleiro. Sem propriamente um plano. Vagueando, apenas. Ansiando pela viagem. Mesmo sem vislumbrar costas seguras no horizonte.

Quatro anos depois. O percurso tomou direções nunca antes maginadas, nem sequer em sonhos antes de deixar o porto. Olhando para trás, eis uma lista de 10 coisas que fiz durante estes tempos, sem ordem particular e escolhidas entre muitas outras:

Mais de 50 traduções de livros de regras, aumentando a acessibilidade, muitas das quais para a MasQueOca e TheGeekyPen, incluindo jogos como Concordia e Pavlov’s House. Obrigado, José Antonio e Jo Lefebure, pela oportunidade inicial e pela contínua confiança!

Entrevistas com Dávid Turczi, Sabrina Miramon, Sarah Shah e Don Woods, que gentilmente aceitaram dar algum do seu tempo a um blogue de pequena dimensão, partilhando perspetivas sobre o trabalho com jogos de tabuleiro.

Pequenas histórias para apresentar A Ilha dos Gatos, cortesia de Frank West enquanto generosamente procurava produtores menos conhecidos de conteúdos, e Welcome to Sysifus Corp., graças a Wonmin Lee.

A narrativa para a história principal e cenários de Ynaros Fallin’, graças à confiança e liberdade criativa proporcionadas por Ugo Tomasello, e à sua abordagem muito profissional a este seu primeiro projeto, da criação à produção. Um jogo que em breve chegará ao Kickstarter. 

Júri e mentor no The Board Game Workshop Design Contest, destinado a jogos em desenvolvimento, graças a todo o empenho de Chris Anderson e ao ambiente acolhedor que conseguiu criar.

Aprendendo com Paul Grogan, sempre acolhedor e disponível para partilhar o seu conhecimento e as suas abordagens, e concedendo também a possibilidade de pequenas contribuições nos bastidores de Gaming Rules! Uma oportunidade única para alguém que gosta de livros de regras e do trabalho com eles relacionado, nas suas variadas formas.

Colaborando com Orlando Sá nas fases finais de desenvolvimento do Rossio e do Pessoa, sempre aberto a uma troca de opiniões e a partilhar a sua visão e experiência, levando a outras conversas muito para lá dos jogos. Obrigado pela amizade!

Testando jogos como The Smoky Valley (Claude Sirois, Spielworxx), Lanzerath Ridge (David Thomson, Dan Verssen Games), e That Others May Live (Brad Smith, Hollandspiele – a editar), entre outros. 

Uma apresentação na LeiriaCon, a mais internacional das convenções portuguesas de jogos, por cortesia de Micael Sousa, e na qual abordei mais de 50 anos de jogos (meus) em não muito mais de 10 minutos!

Uma exposição de jogos de tabuleiro no Universidade de Aveiro, graças à Margarida Almeida, que me faz pensar nos jogos também como uma coleção, e como os apresentar, para usufruto de maiores audiências. Um desafio inesperado e recompensador!


A viagem continua!

29 de outubro de 2022

Fim de semana em Viana

 

Sexta-feira à tarde, 21 de outubro. Hora de rumar a norte em direção a Viana do Castelo, para a terceira convenção do ano, depois da LeiriaCon e da RiaCon. Desta vez com estadia e horário completo na agenda, para aproveitar ao máximo a oportunidade de encontros, reencontros e descobertas à mesa.

Uma viagem em tons de cinza, a antecipar o contraste com as cores que por lá esperavam, com chegada a tempo da rápida instalação, uma olhadela ao monte de Santa Luzia, já escurecido, e um jantar rápido em local quase deserto, onde se discutia, mais do que se via, um jogo de futebol.



A VianaCon tinha de facto já começado, à tarde, mas numa sessão dirigida às escolas. Para mim começou à noite, no Café Concerto do Teatro Municipal Sá de Miranda, um espaço diferente para um acolhimento aos participantes e visitantes de ocasião.

Os primeiros encontros, a escolha de uma mesa para evitar os lugares mais tradicionais de bancada, uma sessão de quiz sobre jogos, claro, e um primeiro protótipo para experimentar. Na companhia do Pedro Santos e da Maria Mota, fortíssimos nas respostas, e do André Santos, o autor do jogo, depois de um Roll’n Write em tempos de pandemia, e do Neotopia, a sair brevemente. Teste a sério do protótipo, experimentando estratégias limite, discutindo processos, debatendo afinações.




Sábado, o primeiro dia no Centro Cultural e de Congressos, com o interior acolhedor em tons de madeira, e o rio Lima ali ao lado. Excelente espaço para estes tipo de eventos, com mesas de ótima dimensão. Faltava, talvez, um zona de café, para ir repondo os níveis!

Foi dia de conversas. Com a Marlene e o Luís, da Salta da Caixa, sobre os projetos que aí vêm para trazer mais jogos em português. Com o Manuel, do café de jogos A Jogar é que a gente se entende (ainda não foi desta que por lá passei...), mesmo com o membro mais novo da família ao colo. Com o Luís Baixinho, um dos organizadores, da ficção científica ao ensino (ambos fãs do genial conto Profissão, de Isaac Asimov), do Lego aos jogos dos anos 80. O Pedro Kerouac, habitual conversador destas andanças. O Hugo, com jogos em desenvolvimento, e um teste prometido para a InvictaCon. O Nuno Rebelo e os projetos dos Boardgamers de Aveiro. Entre outros. 

Um primeiro encontro também com o João Cotrim, parceiro dos últimos meses em traduções e revisões de livros de regras para a belga The Geeky Pen.




E, finalmente, foi desta (!): o encontro com o Orlando Sá. Os primeiros contatos começaram, como muitos outros, em trocas de mensagens em grupos de jogos no Facebook. Mais tarde veio um convite, inesperado, para experimentar o Rossio, em fase quase final de desenvolvimento e de afinação do modo a solo. A estas colaborações seguiu-se o Pessoa, para além de conversas e ideias várias, ciclismo incluído. 

Ainda bem que, neste mundo-de-jogos, podemos ocupar quer o espaço virtual, quer o espaço físico, e tirar partido de ambos!

Neste caso ainda com um bónus, um workshop bem interessante sobre a criação e desenvolvimento de jogos, da ideia aos protótipos, dos testes aos livros de regras, da mesa de casa às editoras.




Depois, foi tempo de jogar, descobrindo novos jogos. E se, em Leiria, praticamente só joguei protótipos, em diferentes fases de desenvolvimento, desta vez foram só jogos já publicados, com mais ou com menos anos. Mesas partilhadas com o Tiago, o Sérgio, o Eduardo, a Filipa, o Nuno, o Pedro Kerouac e o Luís Júnior.


Glory to Rome - Gerindo personagens para reconstruir Roma


Parks - Percorrendo os Parques Nacionais dos EUA

Sobek - Colecionando recursos no Antigo Egipto


Abomination - Frankenstein revisitado


Viticulture - Produzindo vinhos na Toscânia

15 de outubro de 2022

Serei Rei!

 


A Grande Ilha perdeu o seu Rei. E, como em muitas histórias, havia os escoceses, os galeses e os ingleses. Mas tu não pertences a qualquer um destes grupos. És um nobre que almeja alcançar o trono. Porém, não és o único.

Procuras influenciar o equilíbrio de poder em cada uma das oito regiões, enquanto simultaneamente buscas o apoio das diferentes fações. Há, no entanto, um pequeno grande senão. Cada apoiante que ingressa na tua côrte é menos um a contabilizar para a definição de maiorias sobre o terreno.  Convém também não esquecer que, quando a luta pelo poder é resolvida numa região, o seu resultado fica inscrito na pedra, sem possibilidade de mudança de fidelidades, até ao fim.

Além disso, e embora cada uma das tuas ações possa ter um longo alcance, o número de escolhas é deveras limitado. Não mais do que oito, cada uma para ser usada uma única vez. E sabes perfeitamente que as opções dos teus rivais são exatamente as mesmas. É por isso que o fator tempo se torna tão mais importante. Quando esperar, observar e passar. Quando agir. Que ação escolher. 

Como se tudo isto não bastasse, há ainda os franceses, aqueles vultos negros a pairar sobre o canal, pacientemente, à espera do vazio de poder, ou do caos, para invadir a ilha! Apesar de tudo, até isto pode resultar em teu proveito, não para seres coroado Rei, mas sim como líder unificador na resistência contra o invasor. 

The King is Dead é uma fascinante criação de Peer Sylvester, ilustrada por Benoit Billion, e publicada por Osprey Games. Muito fácil de aprender mas difícil de dominar, pois cada decisão é um dilema, extremamente equilibrado e sempre tenso, apelando tanto a jogadores casuais como aos mais experientes. 











3 de setembro de 2022

Trabalhos de Verão


    “Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és (…)”, Jorge Palma


Férias! Sinónimo de desejada paragem no trabalho-trabalho. Casa sem horários. Viagens traçando riscos pelo País. De norte a sul, de oeste a leste, de regresso. Reencontros com o azul, das águas e dos céus. Tardes quentes. Noites mornas. Família, mais numerosa ou mais reduzida.

Sinónimo, sempre, de tempo para jogos-jogados. Mas, também, para jogos-trabalhados. Colaborações que se renovam, mas que chegam sem data marcada. Colaborações pontuais. Novos desafios. Projetos que pairam sobre o calendário, ainda suspensos. A busca pelo projeto que virá a seguir. 

A agenda, em constante mutação, permanecia preenchida, reclamando tempo e espaço. Habitualmente, o tempo é noturno. Habitualmente, o espaço é a sala acolhedora, o candeeiro que quebra a penumbra, a secretária habitual, a cadeira, a luz suave do segundo ecrã, as estantes em segundo plano. Tudo substituído por um par de semanas. Afinal, basta um portátil ligado ao mundo, um poiso mais ou menos improvisado, uns reajustes de horários, e o trabalho pode continuar.

Pinceladas de Verão, vagueando pela terra dos jogos, cruzando fusos que marcam o tempo.






The Board Game Workshop (Estados Unidos da América). Jurado e Mentor. São os papéis que venho assumindo, desde 2019, no concurso para jogos em desenvolvimento dinamizado, todos os anos, por Chris Anderson. O principal objetivo não é classificar e hierarquizar. Pretende-se, sim, contribuir para o aperfeiçoamento dos jogos, comentando e discutindo. Gosto especialmente do papel de mentor, chamemos-lhe assim, destinada a jogos que ultrapassaram a primeira fase do concurso. Uma oportunidade única de conhecer novos autores e projetos ainda não acabados, de perceber as motivações e escolhas, de passar para trás da cortina.

Na edição deste ano acompanhei dois projetos completamente diferentes. Um essencialmente abstrato, outro com o surf como tema. O primeiro, com alguma complexidade, a apelar à reflexão. O segundo, para momentos mais descontraídos, em grupo e para vários públicos. Vindos de geografias bem diferentes, Canadá e Austrália. Conversas à distância, cinco fusos horários para trás, dez para a frente. Partilha de opiniões, discussão de processos, debate de opções, comentários, questões sugestões. Sobre o jogo em si, sobre a escrita de regras, sobre os vídeos de apresentação. A caminho da terceira fase, quem sabe, ou de um percurso próprio, já fora do concurso. 

Querem experimentar? Como autores ou como jurados? 2023 está já aí ao virar da esquina, e as inscrições são abertas a todos.


The Geeky Pen (Bélgica). Traduzir. Jogar com palavras e frases. Sentido, estilo, rigor. Aprendendo novos termos. Buscando soluções. Imaginando alternativas. Aumentando a acessibilidade dos jogos. Em Português.

A colaboração com esta empresa de tradução, criada em 2015 por Jo Lefebure, e especializada em jogos, é já uma das mais regulares, quase a atingir as duas dezenas de títulos traduzidos para português, em praticamente outros tantos meses. Regular, mas sempre imprevisível, como é típico esta área.

Desta vez, foram duas as mensagens que chegaram em pleno agosto. Uma delas para um livro de regras bem mais extenso do que tem sido habitual, apropriado para um jogo de média complexidade, e a requerer algum trabalho de pesquisa temática. Vamos ver se é uma tendência, ou apenas um caso isolado.


Gold Mountain Games (Reino-Unido). Editando, revendo. Apreendendo o sentido, verificando a consistência, questionando, sugerindo, retificando, preservando a voz dos autores. Descrições de continentes, de ilhas e de mares. Fauna e flora. Povoações e cidades. Raças múltiplas e monstros vários. Com história e com histórias. Culturas. Personalidades. Habilidades. Um mundo em criação, ganhando vida através dos textos, ilustrações e música. Para ser habitado por jogadores-aventureiros. Para inspirar o Mestre de Jogo.

Trata-se de uma empresa que cria conteúdos para jogos de personagens, jogos narrativos, compatível com a 5ª edição. É um dos novos projetos, integrando a equipa encarregue da edição dos textos. Em conjunto com pessoas de geografias diversas. Bem no meio da narrativa. Dando uso a muitos anos de edição e revisão, nos mais variados contextos e com os mais variados temas.

Agosto de 2022. E, assim, começou!








Hollandspiele (Estados Unidos da América). Jogando, testando, reportando, detalhando resultados, descrevendo experiências, comentando. Repetindo. Teste, reporte, evolução. Teste, reporte, evolução. Partes essenciais do desenvolvimento de um jogo. E sempre com um olho nas regras, ou não gostasse dos manuais que acompanham os jogos. 

Testes feitos através de plataformas digitais, convenientes, económicas, permitindo ultrapassar distâncias e contornar os fusos horários. Não proporcionam as mesmas sensações do original, pelo menos para mim. Mas são elas que tornam estas interações possíveis e alargadas! 

That Others May Live é um jogo a solo, sobre operações aéreas de busca e salvamento, em plena guerra do Vietname. Tenso, com a pressão do tempo que se escoa, e com a incerteza do posicionamento e comportamento do inimigo. Uma criação de Brad Smith, sobre a qual podem ler aqui, com o desenvolvimento de Ryan Heilman, para a Hollandspiele, uma editora original, que não hesita em abordar temas sensíveis, sejam as políticas da escravatura, conflitos vários, ou os desafios da reabilitação após uma lesão cerebral. 

1 de maio de 2022

LEIRIA CON 2022 – Parte 3: Vagueando



Nestes encontros procuro sempre momentos para vaguear, apenas, por entre as mesas, escutando, observando, em busca de de pessoas, de tabuleiros e de peças, de ângulos certos ou incertos, de luz e de sombra. Retendo imagens. Imobilizando instantes.


Também ele vagueando, absorto, em The Grizzled

 
A estética apelativa de Pax Pamir


No mar do Norte, Attention All Shipping


Tony Boydell, e o seu Attention All Shipping


Outras peregrinações, em Pilgrim


Nica Case e Pilgrim


Espaço precisa-se, para The Clash of Cultures


E espaço físico-temporal, para Twilight Imperium


Encontro de pessoas


É tempo de fechar a cancela

28 de abril de 2022

LEIRIA CON 2022 – Parte 2: À mesa

 

As mesas chamavam. 

E lá fui experimentar uns quantos jogos. 

Todos, exceto um, eram jogos em desenvolvimento, mais ou menos avançado. 

Uma oportunidade conversar, antes, durante, e depois.

Sobre os jogos, temas, processos e sensações.


Com Citie Lo ...

... e o seu Zoo, num teste a três


Com Uli Blennemann, explicando a nova versão de La Granja ...


... agora designada El Burro


Colocando guarda-sóis em Copacabana, de Bruno Ribeiro


Meeple Land, o único não-protótipo que joguei


E no último dia lá consegui um lugar vago na mesa de Mac Gerdts, ...


... para uma viagem experimental no Transatlantic II


Tudo isto com o mar, a areia e o vento, ali mesmo ao lado.

25 de abril de 2022

LEIRIA CON 2022 – Parte 1: Os (re)encontros


1 de abril. Início de manhã. Esta sexta-feira não seria um dia de trabalho-trabalho. A mochila estava pronta. Máquina fotográfica, os indispensáveis caderninhos de notas, caneta e lápis, uns cartões acabados de fazer, água e um par de snacks. O carro estava sentado à espera, junto ao passeio. A estrada aguardava mais à frente. Destino Praia da Vieira. Objetivo: LeiriaCon. Era 1 de abril. Mas não era mentira!

A última, e também a primeira, em que participei, realizara-se em 2019. Nessa altura, estava ainda em fase de redescoberta do mundo e da indústria dos jogos, versão século XXI. O blog começara em 2018, as colaborações ao nível da tradução pouco depois, bem como a participação em fóruns diversos, ao mesmo tempo que a coleção de jogos ia crescendo. 

Um ano depois, a expetativa era grande. Os contactos tinham-se sucedido, muitos nomes tornaram-se familiares, e a minha atividade à volta dos jogos ia-se alargando. O menu antecipado incluía a participação nas LeiriaTalks, assistir a uma sessão sobre demonstração e ensino de jogos conduzida por Paul Grogan, experimentar protótipos, jogar, e, claro, encontrar as pessoas por detrás dos jogos, e à mesa com eles.

Mas chegou a pandemia. Tudo foi suspenso, adiado, cancelado, confinado. Bem, não tudo, verdadeiramente, porque o virtual permitiu manter a área a funcionar, e a reclusão incluía os jogos em família, os mais frequentes por estes lados. Mas não era a mesma coisa. E assim se passaram dois anos… Três doses de vacina depois, as coisas, finalmente, começaram a mudar.



Ficou então marcado o (re)encontro para 2022! O plano estava feito. Prescindir da quinta-feira, dia de arranque. Aproveitar a sexta, dia com menos visitantes, para estar, pela primeira vez, com muitas “daquelas pessoas”, e experimentar protótipos, aqueles jogos que ainda não o são, na presença do criador. Para sábado, uma viagem a cinquenta anos dos “meus” jogos na LeiriaTalks, e à tarde, jogar. Algures no tempo, uma passagem pela área de venda de jogos em segunda mão, uma tentação irresistível. Domingo ficava em aberto. Três dias, começando em Aveiro, com regressado marcado ao lusco-fusco, ao som da rádio, por uma estrada quase deserta.

E assim foi!

Três dias plenos, em especial, de conversas boas, mais ou menos prolongadas, em mesas com tabuleiros e peças, ou à volta de um café. Conversas sobre jogos, claro, passado, presente e futuros, criações e projetos, possíveis colaborações. Reencontros e novos encontros. Do digital para o físico. Do escrito para o falado. Dos emojis para os risos. A sensação de que, afinal, nos conhecemos há mais tempo!



É provável que faltem por aqui uns quantos, mas vale a pena correr o risco. Obrigado Bruno Ribeiro, Pedro Kerouac, João Pimentel, Micael Sousa, João Neves, Uli Blennemann, Citie Lo, Karthik Setty, Marc Gerdts, Carlos e Sónia Sousa, Manuel e Dina Silva, Mariano Inannelli, Rodolfo Gomes, Hugo Marinho e Rita Jesus, Carlos Ramos, Carlos Martinho, Luís Costa, Carlos Santos, Pedro Silva, André Santos, Paulo Soledade, Nuno Santos.

Plano para 2023: a experiência completa, com serões e estadia incluídos!