3 de setembro de 2022

Trabalhos de Verão


    “Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és (…)”, Jorge Palma


Férias! Sinónimo de desejada paragem no trabalho-trabalho. Casa sem horários. Viagens traçando riscos pelo País. De norte a sul, de oeste a leste, de regresso. Reencontros com o azul, das águas e dos céus. Tardes quentes. Noites mornas. Família, mais numerosa ou mais reduzida.

Sinónimo, sempre, de tempo para jogos-jogados. Mas, também, para jogos-trabalhados. Colaborações que se renovam, mas que chegam sem data marcada. Colaborações pontuais. Novos desafios. Projetos que pairam sobre o calendário, ainda suspensos. A busca pelo projeto que virá a seguir. 

A agenda, em constante mutação, permanecia preenchida, reclamando tempo e espaço. Habitualmente, o tempo é noturno. Habitualmente, o espaço é a sala acolhedora, o candeeiro que quebra a penumbra, a secretária habitual, a cadeira, a luz suave do segundo ecrã, as estantes em segundo plano. Tudo substituído por um par de semanas. Afinal, basta um portátil ligado ao mundo, um poiso mais ou menos improvisado, uns reajustes de horários, e o trabalho pode continuar.

Pinceladas de Verão, vagueando pela terra dos jogos, cruzando fusos que marcam o tempo.






The Board Game Workshop (Estados Unidos da América). Jurado e Mentor. São os papéis que venho assumindo, desde 2019, no concurso para jogos em desenvolvimento dinamizado, todos os anos, por Chris Anderson. O principal objetivo não é classificar e hierarquizar. Pretende-se, sim, contribuir para o aperfeiçoamento dos jogos, comentando e discutindo. Gosto especialmente do papel de mentor, chamemos-lhe assim, destinada a jogos que ultrapassaram a primeira fase do concurso. Uma oportunidade única de conhecer novos autores e projetos ainda não acabados, de perceber as motivações e escolhas, de passar para trás da cortina.

Na edição deste ano acompanhei dois projetos completamente diferentes. Um essencialmente abstrato, outro com o surf como tema. O primeiro, com alguma complexidade, a apelar à reflexão. O segundo, para momentos mais descontraídos, em grupo e para vários públicos. Vindos de geografias bem diferentes, Canadá e Austrália. Conversas à distância, cinco fusos horários para trás, dez para a frente. Partilha de opiniões, discussão de processos, debate de opções, comentários, questões sugestões. Sobre o jogo em si, sobre a escrita de regras, sobre os vídeos de apresentação. A caminho da terceira fase, quem sabe, ou de um percurso próprio, já fora do concurso. 

Querem experimentar? Como autores ou como jurados? 2023 está já aí ao virar da esquina, e as inscrições são abertas a todos.


The Geeky Pen (Bélgica). Traduzir. Jogar com palavras e frases. Sentido, estilo, rigor. Aprendendo novos termos. Buscando soluções. Imaginando alternativas. Aumentando a acessibilidade dos jogos. Em Português.

A colaboração com esta empresa de tradução, criada em 2015 por Jo Lefebure, e especializada em jogos, é já uma das mais regulares, quase a atingir as duas dezenas de títulos traduzidos para português, em praticamente outros tantos meses. Regular, mas sempre imprevisível, como é típico esta área.

Desta vez, foram duas as mensagens que chegaram em pleno agosto. Uma delas para um livro de regras bem mais extenso do que tem sido habitual, apropriado para um jogo de média complexidade, e a requerer algum trabalho de pesquisa temática. Vamos ver se é uma tendência, ou apenas um caso isolado.


Gold Mountain Games (Reino-Unido). Editando, revendo. Apreendendo o sentido, verificando a consistência, questionando, sugerindo, retificando, preservando a voz dos autores. Descrições de continentes, de ilhas e de mares. Fauna e flora. Povoações e cidades. Raças múltiplas e monstros vários. Com história e com histórias. Culturas. Personalidades. Habilidades. Um mundo em criação, ganhando vida através dos textos, ilustrações e música. Para ser habitado por jogadores-aventureiros. Para inspirar o Mestre de Jogo.

Trata-se de uma empresa que cria conteúdos para jogos de personagens, jogos narrativos, compatível com a 5ª edição. É um dos novos projetos, integrando a equipa encarregue da edição dos textos. Em conjunto com pessoas de geografias diversas. Bem no meio da narrativa. Dando uso a muitos anos de edição e revisão, nos mais variados contextos e com os mais variados temas.

Agosto de 2022. E, assim, começou!








Hollandspiele (Estados Unidos da América). Jogando, testando, reportando, detalhando resultados, descrevendo experiências, comentando. Repetindo. Teste, reporte, evolução. Teste, reporte, evolução. Partes essenciais do desenvolvimento de um jogo. E sempre com um olho nas regras, ou não gostasse dos manuais que acompanham os jogos. 

Testes feitos através de plataformas digitais, convenientes, económicas, permitindo ultrapassar distâncias e contornar os fusos horários. Não proporcionam as mesmas sensações do original, pelo menos para mim. Mas são elas que tornam estas interações possíveis e alargadas! 

That Others May Live é um jogo a solo, sobre operações aéreas de busca e salvamento, em plena guerra do Vietname. Tenso, com a pressão do tempo que se escoa, e com a incerteza do posicionamento e comportamento do inimigo. Uma criação de Brad Smith, sobre a qual podem ler aqui, com o desenvolvimento de Ryan Heilman, para a Hollandspiele, uma editora original, que não hesita em abordar temas sensíveis, sejam as políticas da escravatura, conflitos vários, ou os desafios da reabilitação após uma lesão cerebral. 

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