O material com que buscava o conhecimento ia reclamando o seu espaço, sobre o tampo da secretária e no interior das suas gavetas. Por vezes com algum sentido ordem, de prioridade, de urgência, de novidade. Outras pelo acaso de uma sacola despejada no final de mais um dia. Outras ainda pelo efeito da procura de uma memória, de um vislumbre, de uma ligação inesperada. Manhãs, tardes e noites, por vezes quase indistintas, lá fora, sob o céu pesado, como cá dentro.
Numa arcada distante, o relógio da torre faz soar seis badaladas e cala-se em seguida. O jovem deixa-se cair pesadamente na cadeira e encosta a cabeça à secretária. Veio para o escritório de madrugada, depois de mais uma noite atribulada. (…) Na penumbra que envolve toda a sala, as secretárias recortam-se sombrias e abauladas, lembrando corpos de grandes animais adormecidos. (*)
Os livros, receitas e poções, resultantes das últimas lições, ainda à espera de um novo olhar, mais atento e demorado, ocupam uma boa parte da secretária. Umas moedas espalhadas, sobre o canto direito, fruto do trabalho realizado. Numa gaveta, à esquerda, as notas para as próximas aulas que darei, e o registo dos recebimentos. Outras duas com cadernos de estudo. Ainda na fiada de cima, uma com a correspondência trocada com os meus estudantes, discutindo os seus progressos e descobertas. Mais abaixo, o diário de viagem e o roteiro dos caminhos a seguir.
Uma viagem à boleia de Newton, um jogo de Nestore Mangone e Simone Luciani, Ediciones Mas que Oca (2018) sob licença de Cranio Creations.
(*) Os Sonhos de Einstein, Alan Ligthman, Edições Asa, 3ª Edição, 1996.
(*) Os Sonhos de Einstein, Alan Ligthman, Edições Asa, 3ª Edição, 1996.
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