17 de abril de 2021

A Ilha dos Gatos: Parte I - Histórias de gatos

 


Exemplar do jogo cedido por Frank West, The City of Games

O barco está pronto e prestes a levantar âncora. É tempo de desligar a música que estou a ouvir, sobre patas sujas e amigos peludos, algo relacionado com monstros e homens, por mais apropriada que possa parecer. Os sons que me rodearão nos próximos dias serão muito diferentes: o murmúrio das águas, o ranger do convés de madeira, o tamborilar dos cabos de encontro aos mastros, o silvo do vento acariciando as velas. Isto enquanto navegarmos para a ilha, preparados para iniciar a exploração, ansiosos por aprender novas lições ao longo da jornada, por procurar tesouros perdidos no tempo, e, acima de tudo, por resgatar gatos, muitos gatos!

Há algo de fascinante nestas criaturas que mudam de forma, capazes de se esticarem ao comprido sob o sol quente, de se enrolarem numa bola no inverno, ou de se enroscarem numa caixa demasiado pequena. E podemos ainda acrescentar os saltos elegantes, ou a mais completa imobilidade, o suave ronronar, e, claro, aquela pose inata de superioridade.

Ouvi falar de outras ilhas, habitadas por bem mais gatos do que humanos, rodeadas por um outro oceano, um que às vezes é pacífico. Aoshima é o nome de uma delas. Neko no shima, se entendes o que quero dizer. Sim, isso mesmo, Ilha dos Gatos.

Desculpa-me, estou a divagar … Como deu para perceber, gosto de gatos! Não que isso seja uma condição necessária para nos aventurarmos na Ilha dos Gatos, e apreciar os desafios que lá nos aguardam. Mas, bem, se também gostares deles, não duvido que verás esta viagem sob uma luz bem distinta.




Voltando à história, os nossos batedores de Ponta da Tempestade descobriram que, afinal, as lendas antigas eram verdadeiras. A Ilha dos Gatos está, de facto, povoada por raças antigas de gatos. Raças que rapidamente aprenderás a distinguir com um simples olhar, principalmente pelas suas cores, que nunca antes viste num gato, e pela sua cauda. Podes até aprender os seus nomes, ou pelo menos alguns deles.

The naming of cats is a difficult matter
It isn't just one of your holiday games
You may think at first I'm mad as a hatter
When I tell you a cat must have three different names *

Bem vês, há aquele nome razoável para ser usado todos os dias, com alguns gatos até a partilharem o mesmo nome, tal como acontece connosco, humanos. Depois, há o nome requintado, distinto, um nome que nunca pertence a mais do que um gato.

Of names of this kind, I can give you a quorum
Such as Munkustrap, Quaxo or Coricopat
Such as Bombalurina, or else Jellylorum *

Munk... Munkust... quê? Hmm, mais difícil do que esperavas, não? Tornemos isto mais simples. Não vais conseguir dizer o nome de cada gato da ilha. Fiquemo-nos pelo nome das famílias de gatos, não tão diferentes ao ouvido como os Munkustraps ou Jellylorums: os Hissnipers azuis, os Mhoxxites laranja, os Teruvians vermelhos, os Starry Vandemils rosas, os Crystal Garmins verdes, e os ainda mais únicos Oshaxs listados.

But above and beyond there's still one name left over
And that is the name that you will never guess
The name that no human research can discover
But the cat himself knows and will never confess *

Certo, o terceiro nome está claramente fora do nosso alcance!




Estamos quase lá, quase a chegar à enseada acolhedora. E, subitamente, sinto a pressão! Isto não será uma passeata pelo parque, porque trata-se de uma missão de resgate de emergência. As sombras aproximam-se, céleres, sob a forma dos exércitos flutuantes de Vesh Mão-Escura, que não pouparão ninguém no seu caminho! Não arriscaremos um encontro destes, e assim que for avistada a mão vermelha sobre as velas negras desfraldadas, deixaremos a ilha, para navegar de regresso a Ponta da Tempestade, em segurança.

Trata-se, de facto, de uma corrida contra o tempo, para resgatar o maior número possível de gatos, apanhar tesouros, e tirar partido das lições aprendidas. Cinco dias, de acordo com as melhores previsões. Cinco dias de trabalho árduo, da alvorada ao ocaso, para encher o barco, cumprir a missão, e enfrentar o escrutínio público no regresso.




Mas como raio vou atrair para o barco aqueles gatos de espírito livre, podes interrogar-te. De certeza não será com comida da cidade, uma vez que estão acostumados a ter peixe fresco como refeição! Bem, pescarei para eles, já que gatos serão gatos. Rapidamente acreditarão que fomos treinados para os alimentar e servir, tornando-se cada vez mais confiantes, sem esquecer que nunca rejeitarão um prato saboroso. Depois, atrever-se-ão até a roubar peixe de dentro dos cestos. E esse é o momento certo! Snap! Já percebeste, só é preciso fechar o cesto, e ala até ao barco.

Pois, sei que não trouxemos assim tantos cestos connosco, e é preciso um cesto para cada gato … Assim teremos de ir e vir, um gato de cada vez, soltando-os a bordo na certeza de que não saltarão para a água. Para a frente e para trás, tantas vezes quantas as necessárias, subindo com os cestos vazios, descendo com os felinos. Cestos, peixe e barcos (I hear you, fish and ships), é tudo o que precisamos. Mais cedo do que tarde teremos gatos a correr pelo convés.




Olha! Já há gatos a vaguear, pintalgando os campos com manchas de cor. O campo do lado esquerdo da ilha parece de mais fácil acesso, mas pode ser preferível apanhar alguns gatos no lado direito, já que esta viagem não se resume a fazer a primeira captura, nem a mais fácil.

Até porque, no regresso, valerá a pena manter as famílias de gatos juntas e numerosas. E é por esta razão que haverá alguma escolha dos gatos a resgatar, confiando que, entre todos nós aventureiros, muitos gatos serão salvos, e os barcos regressarão bem carregados.

Já antes falei dos tesouros? Tens a certeza? Sim, tesouros, perdidos no tempo. Espalhados por toda a ilha. Porque não enriquecer, enquanto resgato gatos?

Um pequeno detalhe que não podemos esquecer: quando o sol se deita, os gatos que ainda estão nos campos desaparecem rapidamente nas sombras que se alongam, para não mais serem vistos! O sol levantar-se-á outra vez, assinalando um novo dia, e gatos descerão para os campos. Mas serão outros gatos, não os mesmos do dia anterior. Por isso, há que escolher bem!




Chegou o momento de explorar a ilha. E estas botas, como a maioria delas, são feitas para andar. E eu andarei. Poderei até correr! Mas tenho de escolher o rito certo, uma vez que ficaremos aqui cinco dias, sempre com gatos diferentes para resgatar, em cada um deles. Às vezes precipitar-me-ei, para ser o primeiro a chegar aos campos, e escolher o gato para apanhar, enquanto outras vezes tomarei o meu tempo.

Sempre alerta. Olhando em frente, para avistar os gatos nos campos; olhando sobre o ombro, para medir a competição; olhando para trás, para a enseada, para avaliar a carga de cada barco, tentando descortinar os planos dos rivais.




Haverá lições para aprender, ao longo do caminho. Ouvindo, ou melhor, lendo, os pergaminhos dos antigos. Serão um guia para esta viagem, ajudando a decidir, a escolher sabiamente, a planear um exitoso regresso a casa.

Algumas lições serão partilhadas com os companheiros de aventura, e caberá a cada um fazer bom uso delas. Outras serão mantidas em segredo, apenas ao alcance dos nossos olhos. E ainda outras não terão qualquer uso. É preciso lê-las cuidadosamente, e tê-las sempre presentes ao delinear a estratégia para os dias que se seguem.

No final da expedição, quem será reconhecido como o explorador de maior sucesso que alguma se vez aventurou na Ilha dos Gatos?




Já antes falei dos tesouros? A sério?! Desculpa, estou a repetir-me... Deve ser deste sol escaldante… Dizia eu, há tesouros, e há tesouros. Alguns são daquele género mais comum, não muito grandes, e fáceis de encontrar nas encostas. Mas há também verdadeiras raridades, feitas de pedras preciosas grandes e brilhantes. Com a sorte do nosso lado poderemos apanhar uma mão cheia!

Felizmente que o barco não é assim tão pequeno, havendo espaço suficiente no convés para gatos e tesouros. Ainda assim, o próprio carregamento dá que pensar, até porque não haverá tempo para o reorganizar mais tarde, e queremos manter juntas as famílias dos gatos, enquanto empilhamos cuidadosamente os tesouros nos cantos e espaços vazios, ao mesmo tempo nos tentamos livrar daqueles ratos irritantes que fizeram clandestinamente toda a viagem.




Um verdadeiro achado seria cruzarmo-nos com alguns Oshax, aquela rara raça de gatos, com listas avermelhadas e tufos verdes. Esses, não encontraremos nos campos abertos, junto dos outros gatos. E sabe-se que comem muito! Uma espécie de realeza, por estas bandas.

No entanto, são mais amigáveis do que se poderia supor, e integram-se bem numa família normal de gatos. É por isso que deves apresentá-los a outros gatos, mal os colocas a bordo, e eles passarão a ser membros leais dessa família, preservando simultaneamente a sua pose característica.




Nesta corrida para bater a aproximação de Vesh Mão-Escura, e os outros aventureiros, terei, sem dúvida, que recorrer a alguns truques, aqui e ali, para ganhar vantagem. Seja para pescar um pouco mais do que o habitual, usar cestos improvisados, explorar mais para o interior da ilha, afugentar gatos de um campo para outro, capturar dois deles de uma vez só, ou fazer um melhor uso do espaço disponível no convés. Vale tudo! É só dizeres!




Como já sabemos, os gatos dão-se bem em família. Mas é preciso não esquecer as lições aprendidas, em privado ou em grupo, ao decidir o paradeiro de gatos e tesouros no convés. Gatos, tesouros, mapas, e ainda alguns ratos. Uma bela visão! E ainda não acabamos!




Agora fazes uma melhor ideia do que é necessário para embarcar numa jornada de resgate de gatos. Mas não te iludas: é preciso experimentar em primeira mão!

Porque não me acompanhas durante um dia inteiro na Ilha dos Gatos? Estarás em segurança, tendo-me como guia, enquanto, talvez, te revele mais alguns segredos desta arte. Isso é um sim? Ótimo! Encontramo-nos aqui ao terceiro raiar do sol. Até lá.


* Cats Libretto, © The really useful group. Do musical baseado em Old Possum's Book of Practical Cats, de T. S. Eliot.

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