5 de outubro de 2020

No Rossio

 


Um novo jogo na coleção, que aqui é também um jogo novo, acabadinho de lançar. Desta vez, ao contrário do que é habitual, a abertura da caixa não revelou um mundo para descobrir, sob a forma de tabuleiros e cartas, peças e regras. Não precisava de o descobrir, pelo menos totalmente, porque já lá tinha estado, porque tinha partilhado uma pequena parte do caminho.

Tudo terá começado antes mesmo de saber que tinha começado. Na altura, teria sido apenas uma daquelas trocas de mensagens no Facebook, a propósito de jogos, de testes de ideias e de protótipos e, se bem lembro, da curiosidade e do interesse que teria em documentar o processo de criação de uma destas obras. Do outro lado da rede, estava o Orlando Sá, alguém que apenas conhecia de nome, sobretudo como autor do Porto, um jogo bem recebido em Portugal e não só.

Tudo podia ter ficado por aqui, como acontece com tantas destas interações. Voltei ao blog, aos projetos de revisão e de tradução de regras, aos jogos, à procura de parcerias. 

Mas não ficou. Tempos depois, a 23 de novembro, recebi uma mensagem do Orlando, relembrando essa outra conversa virtual, e perguntando se estaria interessado em participar nos testes de um novo jogo, já em fase final de desenvolvimento! 

Escusado será dizer que a resposta foi sim, claro, com certeza! Umas quantas perguntas e respostas para melhor perceber o contexto: o material necessário para os testes, o número de jogadores, o foco pretendido, e o prazo para enviar contributos. 

E assim, saltei do Porto, que ainda não joguei … ao Rossio. Do Norte para o Sul. Das fachadas da Ribeira à Praça de Lisboa. Dois temas bem portugueses.

Depois, foi receber os ficheiros com o desenho do tabuleiro, dos tabuleiros de jogador, das cartas e peças, das regras. Em versões ainda não acabadas, à espera do trabalho do ilustrador. Imprimir, cortar, colar. Aprender as regras. Descobrir, primeiro a solo, até porque um dos objetivos passava por testar o autómato que serviria de adversário para essas partidas. Mas também jogar a 2 e a 3. Registar resultados, anotar dúvidas, identificar dificuldades, descrever estratégias, fotografar posições, registar pontuações, formular sugestões. Enviar. Repetir. 

Colaboração efetuada essencialmente durante dezembro e janeiro. Concluída esta parte, o resto do processo de conceção e de produção foi seguindo o seu percurso. O lançamento, e encontro, chegou a estar previsto para a Leiria Con 2020. Mas, entretanto, o mundo estava a mudar. Os encontros foram, primeiro, suspensos, depois cancelados. Os projetos recalendarizados, através dos continentes, até porque muitos ostentam a marca “Made in China”. 

Felizmente, este chegou ao seu final, e está agora disponível numa loja com estantes, perto de si, ou numa loja com estantes que não se vêm, à distância de uns cliques. E também por aqui, já não em versão improvisada, em esboço e em cartolina, mas na versão acabada!




E, então, ao abrir a caixa, deparámo-nos com os mestres calceteiros, de bigode e barba, cheios de expressão, com a vida dada pelo traço de Olivier Fagnère. Quatro artesãos, imprescindíveis para desenhar os diferentes motivos na calçada, cada um associado a uma cor, com padrões de custo diferente e de diferente apreciação. 




A praça é um espaço de todos, e o seu pavimento por todos é construído. Mas neste espaço comunitário domina a concorrência, a corrida para ser o melhor. Angariar dinheiro ou recrutar calceteiros, capazes de pontuar padrões valiosos ou repetidos? Fazê-lo no início, com uma praça ainda pouco decorada, ou aguardar pelo aproximar do fim do jogo? Ampliar rapidamente a calçada ou jogar apenas para determinadas combinações? São escolhas, senhores. 




É uma questão de partir pedra, gerir dinheiro, escolher a localização de cada mosaico da calçada, medir o tempo, domar a ambição. Com pequenas mudanças para alterar a dificuldade, ao gosto de cada um. Numa praça que se estende para acomodar mais jogadores. Para duas a quatro pessoas.




Podemos meter os nobres ao barulho, para quem quiser adicionar uma variante ao normal desenrolar do jogo. Estes são nobres sem partido, sem cor preferida, interessados apenas por padrões, mais ou menos rebuscados.




E depois deu-se o reencontro com o Ross, o nosso adversário para jogos em solitário. Não sabemos se o nome denuncia descendência da aristocracia inglesa, se será uma derivação de Ruço, que sabe relacionada com a cor do cabelo, ou uma mera alcunha. O que é certo é que é um adversário difícil de bater, pelo que é melhor começar sempre pelos níveis de dificuldade mais baixos.




O melhor mesmo é experimentarem este Rossio, de Orlando Sá, editado pela Pythagoras Games, colheita de 2020.

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