9 de fevereiro de 2019

JAM, Gravado na pedra


JAM. Jogando à volta do Mundo. Hoje em formato diferente, saindo das salas onde habitualmente se joga, deixando as mesas, os tabuleiros que se dobram, as caixas.

Em viagem pelo território.
Do museu às igrejas e castelos.
Da capital Lisboa à raia da Beira Alta.
Espreitando para o resto do País e para mais além.

Em viagem pelo tempo.
Tempo dos jogadores e dos construtores, ou dos construtores-jogadores.
Tempo dos arqueólogos, dos conservadores, dos historiadores, em busca da memória.
Tempo dos visitantes.

Percorrendo a árvore da família.
Num texto com fotografias enviadas pela filha e artigos escritos pela mãe!

A propósito de tabuleiros imóveis, gravados na pedra, que permanecem depois das pessoas, aguardando por outras gentes. Adaptando a letra dos Barclay James Harvest, “Now the People Are Gone Just the Games' Boards Alone”.


Comecemos pelo Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa, com uma reprodução e ficha informativa sobre o Alguergue, na variante de Alguergue de 12 (fotos de Leonor Conceição).

Um tabuleiro de 5x5 pontos. Uma dúzia de peças de cada lado, deixando apenas uma interseção livre no início do jogo.

Linhas que juntam os pontos e indicam os movimentos possíveis. Movimentos que são apenas de uma casa de cada vez, de um ponto para um ponto vizinho desocupado.

Capturas, saltando por cima de uma peça adversária adjacente para a casa imediatamente a seguir, desde que esta se encontre livre. Possibilidade de capturas múltiplas, em sequência, numa só jogada.

Um jogo clássico, de combate a dois.




Deixemos o Museu, rumo à Beira Alta, concelho Sabugal, na fronteira com Espanha.

Vamos, pela pena de Manuela de Alcântara Santos, ao encontro de tabuleiros de alguergue inscritos no granito e descobrir um pouco mais da sua história [1].

Alguergue, palavra que vem do árabe antigo al-quirkat, pedra pequena. Palavra que denota a origem próxima destes jogos que viajaram até nós: introduzidos na Península Ibérica pelos muçulmanos de além-mar.

Não um jogo, mas uma família de jogos, com princípios comuns, mas com diferentes tabuleiros e número de peças.



Aqui, no Sabugal, trata-se de cinco alguergues de outras variantes, designadas de 9 e de 3.

Tabuleiros gravados no Sabugal, em Vila Maior, Vila do Touro, Sortelha e Rendo. Em afloramentos rochosos ou em construções. Todos provavelmente da época medieval.



Do Sabugal passamos ao resto do País, encontrando mais, muitos mais, jogos gravados na pedra.
Para cima de 250 tabuleiros identificados na obra de Lídia Fernandes [2], com uma clara maioria de Alguergues de 12 e de 9, de Norte a Sul, de Valença a Silves, remontando alguns aos séculos X-XI.



E vamos mais além, atravessando fronteiras de Países, regiões ou tribos, comunicando em idiomas diferentes, usando nomes distintos, mas jogando os mesmos jogos: Alquerque (Espanha), Marro (Catalunha), Marelle (Itália), Marella (Sicília), Mérelles (França), Bara-Guti (Índia), Natt klab ash-shawk (Palestina), Damma (Sara), Aiyawatstani (Novo México), entre muitos outros [3].



[1] Santos, Manuela de Alcântara (2012), Tabuleiros de jogos de alguergue no concelho de Sabugal, Sabucale – Revista do Museu do Sabugal, 2012, n.º 4, pp 83-96.

[2] Fernandes, Lídia (2013), Tabuleiros de jogo inscritos na pedra – Um roteiro lúdico português, Apenas Livros.

[3] Murray, H.J.R (1952), A history of board-games other than chess, Oxford at the Clarendon Press.



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