5 de maio de 2019

Viagens



Comecemos por viajar nas memórias de outra pessoa, que nos levam a 13 de abril de 1969:

No meu sexto aniversário acordei para encontrar o melhor presente que alguma vez tinha recebido. Ao lado da minha cama estava um enorme globo – tive de esfregar os olhos para ter a certeza de que era real! Eu sempre fora fascinado por mapas e pela geografia, as minhas histórias favoritas de infância era aquelas em que o meu pai contava as viagens de Marco Polo, Colombo e Magalhães. Começou com o meu pai a ler-me Conquistador dos Mares: a história de Magalhães, de Stefan Zweig. O nosso jogo favorito tinha-se tornado em retraçar ao redor do globo as viagens daqueles grandes exploradores.

Esta é uma tradução livre de um excerto de How Life Imitates Chess (2007), livro publicado pela William Heinemann.

E quem nos revela este deslumbramento pelas descobertas, por outros mundos, por recriar aventuras, por imaginar e por jogar, dá pelo nome de Garry Kasparov, um dos melhores jogadores de xadrez de todos os tempos.

Tendo nascido cerca de ano e meio depois de Kasparov, também eu me lembro de um globo de infância em que predominava o azul dos oceanos, em que estavam assinaladas rotas e datas de expedições. Através dos mares e dos continentes, descobrindo ilhas, viajando em direção aos pólos com Scott e Amundsen, descendo à fossa das Marianas ou subindo aos Himalaias.

Não posso deixar de pensar nesta curiosa proximidade entre Baku, capital do Azerbeijão (à data parte da União Soviética), e Guimarães, Portugal, no final dos anos 60. Bem como no mesmo fascínio pelos mapas e pela geografia, pelos jogos e pelo xadrez.




Mapas que me serviram, tantas vezes, de tabuleiros de jogo improvisados.

Linhas e pontos. Estradas e cidades. Estradas de cor vermelha, verde ou amarela. Permitindo diferentes deslocamentos. Povoações grandes, médias ou pequenas, permitindo acolher mais ou menos peças, atribuindo bonificações ou penalizações, sendo ponto de partida ou de chegada.

Tabuleiros.
Para corridas através da geografia.
Para simples alinhamentos.
Para perseguições.
Para batalhas.

Com etiquetas, personalizando as peças vindas de outros jogos. Com dados, marcando movimentos ou decidindo confrontos. E com caderninhos, para anotar posições, efetivos, resultados e datas.

Para viagens ao sabor da imaginação.

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