Homo Ludens e a ascensão do Homo Mechanicus. Divagações na terra dos jogos.
Vagueando. Ouvindo outros viajantes. Lendo os escritos afixados nas redes que se estendem. Novas do dia ou dos tempos. Sobre os jogos, como funcionam, como se distinguem ou se assemelham. Em inglês. Em português. Em português misturado com inglês. Como na informática. Como noutras áreas em que escolhemos ser família de adoção de termos que nos chegam de fora.
Leio numa capa reluzente, de jogo que ainda vai ser, solitaire worker-placement. Escuto caminhantes recém-chegados inquirindo: o que significa tile placement, set collection, ou engine building. Observo uma conversa de veteranos destas terras, sobre o uso de area control, a dinâmica de press your luck, a interação entre jogadores própria das auction, ou a movimentação proporcionada por pick-up and deliver.
Consulto um dos oráculos, sítio de referência com trabalho que suscita reverência. No índex nada menos do que 53 mecanismos, ordenados alfabeticamente, e explicados. Começando na letra A, com acting, action/movement programming e action point allowance system, passando por deck building e point to point movement, e terminando nas letras V e W, com variable player powers, voting e worker placement.
Termos que a princípio se estranham. E que logo se vão tornando habituais.
Paro por um momento.
Constato que nunca me tinha apercebido da diversidade de mecanismos por detrás dos jogos, da nossa inusitada tendência para a catalogação e de como cada tribo rapidamente cria os seus próprios códigos.
Continuo parado.
Talvez mais importante. Não me tinha apercebido da importância que os mecanismos parecem ter alcançado, pelo menos para alguns jogadores.
Sim, há tipos de jogos, ou de temas, que apelam mais a uns do que a outros. Contar histórias, desempenhar personagens, desenvolver estratégias abstratas, lidar com monstros, negociar ou tomar parte em guerras passadas, presentes ou imaginadas, atraem, sem dúvida, viajantes com diferentes características. Exceto uns quantos, que tudo experimentam!
Sim, para um criador, é parte integrante do processo refletir sobre o mecanismo, ou conjunto de mecanismos, mais apropriado ao conceito em desenvolvimento, ao objetivo a alcançar, à história que será vivida por cada jogador.
Mas …
Estaremos a dar demasiada atenção à mecânica?
Mais do que em relação à experiência?
À parte, a uma parte, mais do que ao todo?
Ao meio mais do que ao fim?
Serei eu que estou mais atento a esta língua?
Será o efeito da multiplicação dos comentários, anúncios, análises e críticas?
Será um sinal de afirmação desta terra e desta indústria?
Divagações.
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