Há sete anos, o lançamento deste blog assinalava uma espécie de regresso à terra dos jogos. Não que alguma vez a tenha deixado, verdadeiramente, porque os jogos são uma companhia de sempre. Mas a viagem que então se iniciava parecia ter algo de diferente. Talvez porque o mundo dos jogos tivesse mudado, prometendo um sem número de descobertas pelo caminho. Talvez porque não tivesse rumo definido nem destino, permitindo todos os desvios e paragens, encontros e surpresas. Uma viagem nem em sonhos antecipada. Aqui ficam sete momentos, entre tantos outros, para sete anos.
2018. Invicta Com. Uma passagem fugaz na minha primeira convenção de jogos, que decorreu no pavilhão multiusos de Gondomar. Definitivamente, o hobby, que durante muito tempo fora de pequeno nicho, tinha crescido, e esse crescimento tinha-me passado ao lado, imerso que estivera noutros mundos. Ver tanta gente a jogar, tantos jogos e tanto trabalho e dedicação nos bastidores levavam-me a querer descobrir mais e estar presente. A minha rota das convenções apenas a começar.
2019. Os primeiros trabalhos de tradução e revisão de livros de regras para a MasQueOca (MQO), editora espanhola de jogos. Foi curioso o início, uma vez que o contacto não foi direto. À época, ia fazendo contactos com editoras que lançavam jogos no Kickstarter, para averiguar o interesse em incluir o português na oferta de línguas. Um dos contactos foi com Luke Warren, da North Star Games, por ocasião do lançamento do jogo Oceans. Essa colaboração não se concretizou, mas, amavelmente, o Luke passou o meu contacto ao José Antonio Garrido, da MQO. Pouco tempo depois tinha início uma colaboração que não só ainda hoje continua, como se estendeu recentemente à NAC Wargames, o braço armado da MQO.
2020. The Geeky Pen. A colaboração com esta empresa belga de tradução de jogos de tabuleiro é outra das colaborações mais antigas, mais regulares e mais intensas. Estava longe de imaginar que seria assim quando respondi a um anúncio num fórum do BoardGameGeek. Até porque se tratava de um estúdio que reunia profissionais de tradução, o que não era o meu caso. Mas o primeiro trabalho surgiu, e outros se seguiram, sinal também de que o português era uma língua cada vez mais interessante para as editoras. Vim a conhecer pessoalmente o Jo Lefebure, fundador e diretor do TGP, numa convenção internacional de jogos. Esta empresa opera hoje em 25 idiomas!
2021. A exposição. O desafio tinha chegado bem antes, lançado pela Margarida Almeida. Mas, entretanto, veio a pandemia. O mundo tornou-se irreal, o físico deu lugar ao virtual, e os planos foram adiados. Mais tarde foi possível retomar o projeto e organizar uma exposição de jogos de tabuleiro na Universidade de Aveiro. Algo que me obrigou a olhar de maneira diferente para todos aqueles jogos que normalmente nem saem de casa: definir um objetivo, contar uma história, encontrar um fio condutor, selecionar os jogos, escolher o que mostrar de cada um, conceber a disposição dos tabuleiros, das peças e de outros componentes. E levou-me também a compreender melhor os bastidores daquilo que, normalmente, só vemos do outro lado.
2022. Apex Legends. Esta adaptação de um jogo de vídeo de combate na primeira pessoa para o tabuleiro, pela editora polaca Glass Cannon Unplugged, foi, sem dúvida, o desafio mais complexo até ao momento. O trabalho consistia no desenvolvimento integral do livro de regras, com base nas versões de trabalho e na colaboração com a equipa de desenvolvimento. Mas este não é um jogo normal: a ação desenrola-se num espaço tridimensional, com edifícios e outros obstáculos, armas e efeitos dos mais variados tipos, a necessidade de traçar linhas de visão entre atirador e alvo, e a exigência de recriar o ambiente frenético do jogo original. Muitas horas de trabalho intenso e uma colaboração estreita, em especial com o Grzegorz Przytarski, um dos responsáveis pelo desenvolvimento, para este produto singular.
2023. Festival Internacional de Jogos de Cannes. Tinha decidido experimentar uma das grandes convenções além-fronteiras e optei por Cannes, apesar de tudo, mais pequena e mais próxima do que Essen. Era também um pretexto para desenferrujar o francês e, de certo modo, um regresso ao passado dos anos 80, em que as novidades do mundo dos jogos me chegavam através da revista Jeux & Stratégie. Não só passei uns dias no Palácio dos Festivais de Cannes, que associamos mais frequentemente ao cinema, como assisti à cerimónia de entrega do As d’Or aos jogos galardoados, fiz demonstrações de jogos para a Wonderful World Board Games, empresa de Taiwan e criadora, entre outros, do Animals Gathering, e experimentei protótipos noite dentro, nas Nuits du Off.
2024. Unconscious Mind. Esta foi outra colaboração ao nível da conceção e edição de livro de regras, para um jogo que me tinha chamado a atenção desde o início, pelo tema, por alguns dos processos utilizados, e pela arte de Andrew Bosley, Vincent Dutrait, e Yoma. É engraçado, e continua a ser algo estranho, ter o primeiro contacto com o produto final numa convecção, nesta caso a VianaCon, vendo pessoas a aprender o jogo pelo livro de regras que, ainda pouco tempo antes, era objeto de trabalho diário.
2025. GamesLab do DCSPT. Mais um ano, mais um desafio. Desta feita, colaborar na introdução de jogos de tabuleiro como instrumento pedagógico no Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território da Universidade de Aveiro. Com a oportunidade de participar no processo desde os primeiros passos, discutindo as atividades, escolhendo jogos para a ludoteca, dinamizando as primeiras ações de sensibilização com jogos temáticos, fazendo caminho. Jogou-se Die Macher na semana que antecedeu as eleições legislativas, e Rising Waters umas semanas depois. E hoje mesmo há mais: uma apresentação sobre jogos de tabuleiro e seus usos, e uma sessão de jogos com o desenvolvimento de cidades como pano de fundo.
Venham mais sete!

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