Xadrez. Sem dúvida o jogo que mais vezes joguei, sem dúvida por ter praticado a vertente de competição durante muito anos! Sobre ele, deixo apenas uma tradução livre das palavras de Joel Lautier, Grande Mestre da modalidade, no Larousse du Jeux d’Échecs: “O que significa o jogo de xadrez para aqueles que o jogam com assiduidade? (...) Pela minha parte, responderia ao curioso mas apressado questionador que, para o jogador competitivo que sou, é um jogo na substância mas um desporto na forma. Se ele tiver mais tempo, falar-lhe-ei do rigor da preparação antes do jogo, da concentração intensa necessária para calcular com precisão as variantes, da profunda alegria estética de uma combinação que se revela, do autocontrolo absoluto exigido no momento crítico em que o destino do jogo oscila, e da paciência necessária para quebrar uma a uma as últimas defesas do adversário. Se ele se tornar meu confidente, também lhe contarei sobre a angústia da luta, sobre essas derrotas terríveis que são como muitas pequenas mortes no momento."
11 de janeiro de 2025
Notas de uma exposição - Clássicos intemporais
Muito antes, mas mesmo muito, da era do cartão e da impressão, jogava-se em tabuleiros de madeira ou de materiais mais valiosos, e com pedras, contas, sementes ou figuras trabalhadas. Eram tempos de jogos abstratos na sua essência, de confrontos a dois, verdadeiros duelos da mente. Em comum, uma simplicidade de regras, que se aprendem em minutos, mas que permitem estratégias profundas e táticas apuradas, que demoram anos a dominar.
Go. Descobri-o na década de 1980, graças à revista francesa
Jeux & Stratégie. O fascínio por um jogo antigo do oriente, com uma
estética minimalista, a preto e branco. Um tabuleiro imenso, com dezanove por
dezanove interseções, completamente vazio no início do jogo. Liberdade total. Pedras que se
colocam, alternadamente, mas que não mais se movem. Pressionando territórios, cedendo
outros. Entre ganhos de curto prazo e influências duradouras. Ação e passividade. Espaço e tempo
interligados. Com uma linguagem própria, que soa exótica para os ouvidos
ocidentais, muito antes da generalização dos manga e anime. Joseki, Ko,
Tesuji, Atari!
Mancala. Semear para colher, num movimento circular entre os
espaços do nosso lado do tabuleiro e os do adversário. Apanhar sementes do
nosso lado, e distribuí-las, uma a uma, pelos espaços seguintes, indo parar muitas
vezes ao lado oposto, podendo até dar mais do que uma volta ao tabuleiro.
Apelando aos sentidos, entre o manuseamento das sementes e o ruído característico do seu
embate na madeira das concavidades ou noutras sementes. Um jogo de cálculos difíceis
para quem está habituado a raciocínios mais lineares, mas apaixonante. E um
conceito que podem encontrar em muitos jogos de tabuleiro recentes.
2 de janeiro de 2025
Notas de uma exposição - Palavras e Cartas
De palavras e cartas. Elementos familiares, extremamente portáteis, requerendo pouco espaço ou mesmo dispensando uma mesa. Não admira que façam parte de tantos jogos, e sejam até o ingrediente principal, senão mesmo o único, de vários deles. Com uma longa história como elementos lúdicos, continuam a ser constantemente reinventados, traçando pontes entre hábitos antigos e novas experiências.
Codenames. Para jogar em duas equipas, combinando dedução, estratégia e o conhecimento dos parceiros. Associar ideias, dar uma única palavra como pista para descobrir várias palavras da grelha, esperando que os parceiros estejam em sintonia. Mas eis que apenas algumas das palavras correspondem aos nossos espiões, outras a adversários, ainda outras a civis inocentes, e uma é o assassino, a evitar a todo o custo. Um jogo para todos da autoria de Vlaada Chvátil, a completar uma década de existência, e de merecido sucesso.
Just One. Mais uma variação na adivinhação de palavras. Uma única equipa, com o objetivo de levar um dos jogadores à resposta certa. O problema é que cada um dos restantes escolhe uma palavra-pista em segredo, e as pistas idênticas são eliminadas! Qual a melhor estratégia: escolher o óbvio, arriscando a eliminação de pistas, ou procurar pistas mais rebuscadas, mas que precisam de outras para transmitir o sentido pretendido? Uma criação de Ludovic Roudy e Bruno Sautter.
A Tripulação – Em busca do nono planeta. Uma reinvenção dos jogos de vazas, em formato cooperativo, com missões a cumprir em equipa, mas com comunicação muito limitada. Ganhar uma vaza com a carta mais baixa? Ganhar certas cartas numa sequência específica e por jogadores pré-definidos? Tudo isto, e muito mais, neste jogo de Thomas Sing.
Whales Destroying the World. O bluff impera, neste jogo de nome invulgar, em que há partida não se sabe quem é aliado e quem é adversário. Curiosamente, foi a minha primeira colaboração no mundo dos jogos de tabuleiro, traduzindo as regras para português, quando o jogo estava à procura de financiamento no Kickstarter.
Magic the Gathering. Um dos jogos de cartas que adquiriu um estatuto de notoriedade invulgar. Um duelo em mundos mágicos, usando cartas com nomes e poderes específicos. Dotado de um conjunto de mecânicas que promovem uma elevada interação, permitindo ativar cartas, atacar, defender, contra-atacar, aumentar ou interromper efeitos, ou até interromper as próprias interrupções. Alimentado por uma edição continuada de novas cartas e conjuntos, possibilita a construção de baralhos à medida do gosto, do conhecimento, e da carteira. A estratégia antes e durante o jogo. Os torneios. O colecionismo. Custa a crer que esta ideia de Richard Garfield já fez trinta anos!
Cartas tradicionais. Póquer. Tarot. Baralhos de diferentes tamanhos e composição. Um sem número de jogos para todos os gostos, transmitidos oralmente, compilados em revistas e livros, disponíveis na internet. Com variantes regionais ou nacionais. Cabendo num bolso. Sem texto, facilitando a partilha global. Prestando-se ainda, haja habilidade para tal, a truques de magia ou a manipulações complexas!
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