9 de agosto de 2023

Flashbacks de Cannes: Notas do viajante


Uma curta caminhada pela noite fresca e calma. A escuridão atenuada pelas luzes do aeroporto. Um par mais de pessoas, caminhando, puxando malas de cabine. Subitamente, o átrio profusamente iluminado.  Os sons em crescendo. Pessoas em trânsito. À espera. Nesta descontinuidade do espaço e do tempo a que chamamos aeroporto. O voo está previsto para as 7h00. Tempo ainda para um café. Depois, voando sem sentir o vento, pois aquelas asas não são nossas. Lendo um pouco do livro de regras. Descansando.

Aterragem em Nice, pouco depois das 10h00. Outro lugar, outro tempo. O elétrico na linha 2 para Grand Arénas. Outro pequeno trajeto a pé, até à estação de comboios de Nice-St. Augustin. Nova espera. Pessoas em trânsito. Para o mesmo destino, para outros destinos. O próximo comboio em direção a Cannes. Aprendendo uma nova geografia, feita de nomes de estações de comboio. Cagnes-sur-Mer. Villeneuve-Loubet. Antibes. Juan-les-Pins. Prochain arrêt: Cannes.

Esta chegada, relativamente cedo, deixa tempo para explorar aquelas ruas, que em breve se tornarão familiares. Rue 24 d’Aout, Rue de Antibes, Rue des Belges. Boulevard de la Croisette. Obras urbanas em curso, escondidas por tapumes com rostos de estrelas de cinema, olhando para mim, a preto e branco. 

Viro à direita para o Palais des Festivals, onde decorrem ainda preparativos de última hora. O check-in já está aberto, mas apenas para os expositores. Junto ao Palácio, o Porto Velho, cheio de iates. Ostentando bandeiras de Malta, Madeira, Reino Unido, entre outras. Bandeiras do mundo. Passadiços de madeira conduzindo a mundos bem diferentes. 




Uma pizza para almoço, no bistrot Casanova. Algumas notas escrevinhadas no bloco. Deixando o francês vir à tona, entre as conversas nas mesas vizinhas, e o concurso na televisão, bem ao estilo francês, sem ajudas para facilitar as respostas. Talvez seja o Questions por un champion. Depois os check-ins: para o evento, com o passe, a pulseira, as ofertas de boas-vindas; no hotel, deixando a mochila para trás. 

A tarde estava reservada para passear. O sol brilhava. Uma caminhada até ao Suquet, subindo, com vista sobre o mar, o Porto Velho, e Cannes. Depois, descendo de novo, caminhado lentamente na direção oposta, ao longo do Boulevard, junto ao mar e à praia. A fachada do Hotel Carlton, a jóia da Croisette, cujas origens remontam a 1913. Muita gente para uma tarde a meio da semana, pensei. De todas as idades. Caminhando, saboreando um gelado, sentando-se com vista, conversando com bebidas, jogando na praia, jogando xadrez (não resisti a observar o jogo durante alguns momentos). Ar de férias.

Notas soltas. Amanhã será o Dia 1.

(à suivre)

5 de agosto de 2023

Flashbacks de Cannes: Uns meses antes

 

O tempo passa. Os momentos de final de fevereiro ainda permanecem por aqui, flutuando entre memórias dos passados recentes, vívidos, mas com contornos que vão perdendo alguma nitidez. Sei que em breve iniciarão a sua deriva, lenta, em direção a memórias mais distantes, misturando-se, diluindo-se. Ainda assim, deixarão rastos até ao presente do presente e até aos presentes do futuro. Rastos alimentados pelas experiências vividas, pelas imagens capturadas, por leituras sobre o evento, e por escritos como este. Memórias sustidas, memórias construídas.

Tudo começou bem antes dessa data. O desejo de participar num dos grandes festivais de jogos de tabuleiro já andava por aqui há algum tempo. E abriu-se uma janela de oportunidade, para 2023. Essen, na Alemanha, ou Cannes, em França, seriam as escolhas mais óbvias no continente europeu. O enorme ou o grande.  Deutsche Spielepreis ou l'As d'Or. Mais internacional ou com maior foco no francês. Estava inclinado para Cannes, como primeira abordagem, e uma breve troca de mensagens com o Orlando Sá ajudou-me a tomar a decisão final. Cannes seria.

Tiraria uns dias de férias do meu trabalho regular. Participaria em todos os dias do Festival International des Jeux, exceto no último, reservado para a viagem de regresso. Havia que aproveitar! Primeira tarefa: preencher formulários para obter o passe de acreditação profissional (algo que estava longe do horizonte, ainda há um par de anos), garantido acesso à programação completa, ao horário alargado, e ao l’As d’Or. Feito. Acreditação confirmada. Feito. Bilhetes de avião. Feito. Reserva de hotel. Não muito longe da estação ferroviária, e, mais importante, a curta distância do Palais des Festivals et des Congrès. Feito.

Faltava um item importante da lista: encontrar um editor de jogos que necessitasse de colaboração para demonstração de jogos, durante o evento. Acrescentar um nível extra na experiência, vivendo-a também do lado de "dentro"! E regressar ao francês como idioma de jogo, como nos tempos do Jeux&Stratégie, na década de 1980. Umas pesquisas nos sítios habituais, umas trocas de mensagens, e tudo se alinhou, a poucas semanas da partida: efetuaria sessões de demonstração para a editora taiwanesa Wonderful World Boardgames! 

Agora sim, estava tudo pronto, e começava a contagem decrescente para o FIJ 2023.

(à suivre)